Por André Gonçalves
Já se foram – ou se vão – 51 entrevistas de Revestrés e uma coisa não muda: nossa incapacidade de nos mantermos livres dos impactos que nossas conversas com pessoas tão especiais nos causam. Dessa vez, nosso papo é com Zeca Baleiro. Dizemos “é” porque é isso, mesmo: um papo (alguém nesse país ainda fala “papo”?) que segue em andamento. Foram duas horas online, e estão sendo dias e mais dias e mais dias com as palavras reverberando dentro da gente, e a vontade de fazer o que Zeca nos sugeriu ao final: tomarmos todos juntos uma cajuína e seguir conversando. Dentre as muitas falas e histórias contadas nesses cerca de 120 minutos mediados pela internet enquanto o país e o mundo desabam e renascem a duras penas, a frase que dá título à entrevista: “quero ser um velho leve, não quero ficar carregando uma corcunda de coisas e objetos”. Zeca, sem saber, não apenas falou com sua sinceridade evidente: nos deu um sonho para carregar, ao invés de uma corcunda. Temos certeza de que você vai gostar, esteja em Aracaju, no Alabama ou sabe-se lá por onde andará.
A gente costuma dizer que a Revestrés vai se costurando à nossa revelia. Entra perrengue, sai perrengue, cai matéria, muda pauta, sobe matéria e, de repente, aí está ela. Costuradinha sem a gente pegar com muita certeza na linha e na agulha. Veja que na mesma edição em que entendemos com Zeca o que deve ser carregado pela vida, tem uma matéria com Jô, a vovó viajante, que colocou em prática o descarregar coisas e objetos das costas e foi correr o mundo. Se isso não é o universo aprontando das suas não sabemos mais o que pode ser. Conheça Jô, e aprenda com ela como ser viajandona de verdade – e feliz.
No meio do caminho dessa viagem, conheça um pouco da obra de Acácio Gil Borsoi, arquiteto referencial na arquitetura brasileira, e que construiu em Teresina e Brasil afora não apenas prédios importantes, mas um legado e uma história de respeito. Com concreto e leveza (olha ela de novo aí).
Como a gente gosta de fazer, mostramos também na edição 51 o patrimônio arquitetônico de Teresina recebendo vida, cor e arte: festivais e artistas transformando a paisagem urbana e o olhar das pessoas através de grandes murais, mensagens de resistência e retomada de memórias apagadas pelo tempo.
Resistências e memórias que ressurgem também na conversa com Déia Freitas, a podcaster que conta histórias e mistura ativismo, bom humor e se posiciona: “nunca fui neutra”. Resistência e memória também marcadas nos cabelos trançados a afetos e à autoestima das pessoas negras, que se reconhecem e se posicionam no mundo, contra os preconceitos, assumindo-se belos e cuidando do que tem na cabeça – ao mesmo tempo, dentro e fora. Leia na reportagem Trançando Afetos.
Para fechar esse texto – e não a edição, que tem muito mais – a leveza e o bom humor que vem do Ceará e quebra tabus – e deixa muita gente com água na boca: veja, na Gastronomia Revestrés, os crepes-xibatas que estão fazendo sucesso e divertindo muita gente.
É bem por aí, essa Réves 51. Que, além de tudo isso, ainda homenageia o gigante Assis Brasil, que fez história na nossa literatura e nos deu o presente de ser o primeiro entrevistado Revestrés, lá no já quase distante ano de 2021.
E a gente segue, tentando ter força e leveza e, principalmente, inteligência para seguir carregando só o que importa. Bora seguir conversando?
Vem que tem cajuína, Zeca.
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Editorial da Revestrés#51.
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