Por Samária Andrade

A gente não tinha se dado conta de que estava tão famoso. Mas bastou chegarmos ao auditório e uma simpática equipe de recepção abriu caminho, nos indicando a passagem. Eu e André estávamos ali para acompanhar o bate-papo e, depois, entrevistarmos o palestrante. Ficamos um tanto constrangidos, pois a ideia era entrarmos na fila que se formava. Porém, convocados com insistência, achamos que chamaríamos menos atenção aceitando a gentileza: entramos no auditório e fomos conduzidos a duas cadeiras logo na primeira fila em que estava escrito “reservado”.

É amigos, o sucesso tinha chegado. Não restava dúvida. E olha, não é difícil acostumar com os privilégios. No início um pouco desconfiados comentamos entre nós: “eita, a Revestrés faz sucesso por aqui!”. Só podia ser essa a explicação para tanto rapapé.

 

Um pouco mais relaxados começamos a aproveitar das regalias da fama. Já aceitávamos as águas e cajuínas servidas em bandejas e bonitos copos de vidro. Respondíamos, até com certa naturalidade, se a temperatura do ar-condicionado nos agradava. Pedimos para repetir a cajuína.

Mais pessoas iam chegando e completando as cadeiras do auditório. Tudo ia muito bem até um rapaz se aproximar de uma recepcionista pedindo informação. Ela, alegremente, apontou para o nosso lado. O rapaz balançava a cabeça negando. A moça balançava a cabeça afirmando. E, daquele meio-balé, ele partiu em nossa direção. Passou em nossa frente nos olhando fixamente e seguiu até o final da fila de cadeiras. Deu meia-volta e lá vinha novamente em nossa direção. Eu já não tirava os olhos daquela cena. Finalmente parou à minha frente, apontou para André e me perguntou: “Ele é o Xico Sá?”. Claro, não se pergunta uma coisa dessas diretamente à possível estrela, sempre é preferível checar com alguém por perto.

O fato é que, naquele momento, entendemos tudo. O rapaz investigador não deixou a história por aí. Voltou até a moça da recepção e registrou o engano – aquele dedo-duro. Talvez por constrangimento, nos deixaram ficar por ali mesmo. Assistimos a palestra do jornalista e escritor Xico Sá no Salão do Livro do Piauí de camarote, nas cadeiras reservadas. Mas, que pena, não nos serviram mais nenhuma água.

Samária Andrade é jornalista e professora de Jornalismo. samaria.andrade@hotmail.com