Por Luana Sena
Era uma quinta-feira quente de 2012 quando aqueles cinco se encontraram em uma livraria para arquitetar o plano. A missão: entrevistar Assis Brasil, o escritor piauiense com um milhão de livros vendidos. Debateram sobre sua obra, afiaram as perguntas e organizaram-se para seguir até a casa do escritor, faltando 10 minutos para a hora marcada, quando alguém se lembra: “cadê o gravador?”.
Ninguém havia levado, mas não confunda com amadorismo. Aquele foi um dia bem de revestrés, para ficar na história e fazer jus ao nome: esquecemos o gravador e quando o arranjamos as pilhas acabaram no meio da conversa. Para completar a maré de contratempos, a cajuína comprada para brindar nossa primeira entrevista era cearense. Estava dada a largada para a edição número um da revista Revestrés, uma revista piauiense para falar de cultura, “essa palavra tão gasta e amassada, surrada e um tanto quanto maltrapilha que tantas páginas e séculos foram gastos para tentar defini-la e, a cada definição, se torna outra”, dizia André no editorial de estreia. A primeira edição homenageava Maria da Inglaterra, rainha do povo, e trazia na capa Assis Brasil – a máquina de escrever.
Mas a largada mesmo, de verdade, já havia acontecido dias, meses – talvez, anos – antes, entre encontros e conversas de dois amigos e parceiros de empreitadas: Wellington Soares, professor de Literatura e escritor, e André Gonçalves, da poesia, da fotografia e da publicidade. “Lembro bem das primeiras reuniões acontecendo no mezanino da livraria, para definir a linha editorial. Ali nasceram as primeiras ideias de seções e até o próprio nome da revista”, conta Wellington. “Do início, uma lembrança que acho comovente foi o momento da decisão de fazer a revista”, recorda André. “O papo simples, direto, franco e com um pouco de delírio”.
Eles fundaram a Quimera (empresa de editoração, que passou a publicar a Revestrés e, depois, outros livros e produtos) e recrutaram auxílio para fazer o que, supomos, fazemos de melhor: acreditar em sonhos. Além de mim, vieram Samária Andrade, para o conselho editorial, Maurício Pokemon, nas fotografias, Alcides Junior, diagramação, e as jornalistas Liliane Pedrosa e Nayara Felizardo. Algum tempo depois, para botar ordem na casa, chegaram Adriano Leite, da administração, e Victória Holanda, a mais nova e intrépida repórter da turma.
“Não tem ninguém da equipe que seja alguém que eu não queira estar ao lado, trabalhando ou convivendo”, confessa André, que comanda as reuniões de pauta bimestrais “desierarquizadas” – como um bate-papo, um encontro de amigos, quase sempre regado a pizza e fotos para o Instagram. “É uma mistura de experiência e juventude, onde todos aprendemos, todos crescemos”. Para Samária, a descontração é um dos ingredientes que não pode faltar nesses encontros para definir entrevistados e temas de cada edição. “São sempre oportunidades de boas conversas – algumas muito produtivas e reflexivas. Outras viram uma grande farra. Somos felizes juntos”.
Não demorou muito e fomos parar na academia – constantemente nos chegam artigos, dissertações e outras análises de pesquisadores sobre a nossa produção. Jornalisticamente, também entramos para o hall dos premiados: com dois anos de mercado, Revestrés levou quatro vezes o Prêmio Piauí de Reportagem (dois na categoria impresso, um em fotografia e mais outro em desenho de humor) e foi finalista de um nacional, com matéria da seção gastronômica, que sempre tenta contar a deliciosa história por trás de uma história delícia – alterando os fatores, desordenamos – e adoramos – o resultado.
Na brincadeira – que levamos muito a sério – de fazer revista já se vão quatro anos – estampados em 23 edições. João Cláudio Moreno, Benjamim Santos, Teresinha Queiroz, Eder Chiodetto, Niède Guidon, Douglas Machado, Marcelo Evelin, Paulo José Cunha, Marinalva Santana, Isis Baião, Luiz Alberto Mendes, Ziraldo e Ferreira Gullar foram alguns dos entrevistados que nos ajudaram a pensar, quando sentiram-se a vontade para, em nossas páginas, dizer o que quisessem.
“Costumamos dizer que fugimos aos padrões clássicos do jornalismo”, revela Samária. “A gente se apaixona pelos entrevistados”. Mais do que isso, Sam. A gente se apaixona toda hora, por tudo que a gente que faz.