Mas nem sempre é necessário tornar-se forte.
Temos que respirar nossas fraquezas.
Clarice Lispector
Por André Gonçalves
Ao fecharmos a reunião que decidiu o que iríamos trazer para esta edição #46 de Revestrés, ficou uma sensação estranha – e algo de receio: como não poderia deixar de ser, a edição giraria em torno da pandemia de Covid-19. Mas como faríamos essa abordagem? Como tratar, em uma revista cultural, um tema tão doloroso, tão assustador, num momento em que um vírus nos confina e nos afasta fisicamente das outras pessoas e pode nos matar? Com todas as atividades culturais mundo afora suspensas, como fazer matérias, mostrar pessoas, abordar as dificuldades e realizar entrevistas e matérias? Pautas decididas, respiramos fundo e fomos.
Normalmente uma palavra circula internamente, de maneira mesmo informal, enquanto produzimos a revista. E “respirar” passou a ser a palavra da edição. Mais de uma vez, enquanto as dificuldades iam se sucedendo, alguém disse algo como “dá uma respirada, quando der achamos uma saída”. Não poucas vezes fizemos isso mesmo, inclusive literalmente: paramos e, apenas, respiramos. Sem nos cobrar muito, dando à equipe e à edição o tempo que ela precisou para existir. Respiramos, tomamos fôlego e fomos adiante.
Sobre o tempo: você, claro, percebeu que entre a edição #45 e essa, a #46, houve um hiato maior. Mas sabemos que você compreende bem, porque, nesse 2020 um tanto absurdo, a noção de tempo parece ter se modificado. E está sendo mesmo necessário que o tempo exista numa cadência diferente, porque precisamos – olha novamente a palavra aí – respirar um pouco mais para fazer cada coisa. Porque os últimos meses foram um período de perdas, de perdas irreparáveis. E só respirando muito profundamente e contando com o abraço simbólico – veja que ironia se precisar tanto de abraços quando a exigência é de distanciamento entre nós para sobrevivermos – das pessoas que amamos e admiramos está sendo possível seguir em frente. Todos, dentro e fora da Revestrés, você que nos acompanha e boa parte do mundo, perdemos alguém querido. Ou sentimos muito medo de perder alguém querido. Ou somos próximos de alguém que perdeu alguém querido.
Então, essa edição de Revestrés não é só uma revista. É uma vitória. Uma vitória sobre a dor e a tristeza, uma vitória sobre o medo. É sobre seguir em frente. É uma revista que, apesar de tudo, você vai ver, traz esperanças, cores, alegrias e respiros. E que simboliza para nós – e queremos que para você também – o ato de respirar. Respirar como for possível, para não perdermos o ar e seguirmos nos mantendo vivos e juntos.
Esperamos que você leia essa edição e pense nisso. Siga respirando. Siga.
*A edição #46 de Revestrés é dedicada à nossa querida e saudosa D. Raimunda Soares, mãe do professor – e um dos editores de Revestrés – Wellington Soares.
Editorial da Revestrés#46, publicada em Agosto 2020.
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