Luana Sena

Amar e escrever à máquina

Blog Title

A revolta da muçarela

Toda vez que o whatsapp sai do ar a gente fica a beira do apocalipse.
A gente esquece que telefone também manda SMS.
Que as pessoas também usam email (ou, em tese, deveriam).
A gente fica transtornado de voltar a pré-história e ter que usar um telefone pra, sim, telefonar.

Os alarmes param de apitar, os motoristas entram na rua errada, os jornais saem em branco. É como se tudo no mundo, de repente, ficasse em suspenso pra observar o caos.

Eu estava numa pizzaria e o forno parou porque, juro por deus, não tinha queijo. Acabou e o funcionário atrasou com a entrega porque estava no velório da avó. Só iria depois do enterro. Confiou a folga excepcional à uma mensagem de whatsapp, que, obviamente, nunca chegou. A pizzaria abriu e formou-se uma fila indignada, quase ensaiando a revolta da muçarela.

Mauricio pensou em reclamar no instagram, ideia a qual renunciei – já estava amiga demais da garçonete para comprometer-lhe o emprego. Ela nos ofereceu um suco de cortesia e imediatamente nos calamos. Nunca disse que eu estava em alta no mercado (Poxa, gente, era cupuaçu).

Parando agora pra listar, foram cinco – cinco coisas imprescindíveis que só pude resolver hoje graças a brilhante invenção do whatsapp. Não estou falando pra dormir com o app, mas, vejam só, é bastante interessante ter uma ferramenta facilitando a vida. Se vocês tem overdose de “bom dia” e “maria passa na frente”, acreditem: é vocês que tão fazendo isso muito errado.

Uma das coisas urgentes a qual me refiro foi fofocar com minhas amigas sobre a falsidade das pessoas que escrevem “foi uma jornada intensa e prazerosa” no agradecimento da dissertação de mestrado. Ok, falsidade é um julgamento ríspido, talvez o termo certo seja memória seletiva. Hipocrisia? Não sei, uma das amigas levantou a possibilidade de que, passado o perrengue, você consiga analisar a coisa de uma outra perspectiva e finalmente pense: “meu deus como fui dramática, nem foi tão ruim assim”. Pode ser, mas tem que ser otimista demais para filtrar a parte boa dessa bad na qual me enfiei agora. Talvez, quem sabe, eu seja um tanto rancorosa pra olhar pra trás e não admitir que, céus, essa coisa quase me matou.

É isso. Será um preâmbulo mas bem que poderia ser uma lápide: “Aqui jaz a alegria de viver da autora”.

(Falando em morte, o entregador chegou do enterro com o presunto. Digo, o queijo! Eu disse QUEIJO!)

 

 

 

Volta, rainha

Ju,

aproveitando esses meus dias de fé, ontem eu peguei no sono rezando por ti. peguei até o que é mais normal em ti – tua vontade de fazer as coisas, tua saia, teu turbante e o sorriso que sempre veste – e transformei em prece. lembrei do quanto foi bom te abraçar na sexta – arrisco dizer que tua alegria naquele parque era a mais contagiante. tu me convidou pra um drink – e quem neste mundo faz um mojito melhor que o teu? – e eu, boba, não pude ficar. tu botou um carão que me lembrou os tempos de Ceut – eu te achando abusado de um jeito que inexplicavelmente me atraia. aí veio a revista Grude, o jornal, a vida, as festas, o Salve, muitos carnavais, e a gente sempre se topando de modo delicioso. tem essa nossa conversa jogada fora no face, que você encerra dizendo: “a senhora tá se fortalecendo, fia”, e me apoia num projeto maluco de vida. agora sou eu que te peço: se fortaleça, merman. tem uma multidão aqui torcendo pra que você fique bem.

pra que você volte a nos fazer bem.

#SalveJunior

 

IMG_8342

Eu, tu e a Gorete <3

 

 

Sinto minha fé tinindo

Não acho nada mole falar da fé. Talvez por isso eu tenha escrito cinco vezes um texto procurando uma perfeição que nunca vem. Antes eu tinha muita propriedade pra falar sobre qualquer coisa e achava todo mundo engraçado e interessante. Hoje não me sinto capaz nem de opinar no facebook. Minhas palavras, eu quero dormir com elas, enquanto assisto suspensa meus muros de certezas desabarem.

Aí teve esse dia almoçando de frente pro rio com meu pai, e ele comia e falava driblando a morte de um jeito que só ele é capaz: “O mundo nunca vai mudar enquanto tiverem pessoas acreditando nisso tudo”. E, sem que me perguntassem, enquanto um camaleão corria para a árvore em cima de nós, eu disse que acreditava em tudo. Acredito em tudo aquilo que as pessoas acreditam lhes fazerem bem.

Não sei quanto a vocês, mas os links que salvo para ler num futuro próximo só me deprimem. Está ali, na minha cara, uma sequência de coisas que eu quis ser e não fui. Veja como está a cidade de Edward Mãos de Tesoura, aprenda a fazer uma horta no ap, inscrição para aquele congresso que passou, nomes curiosos de operações policiais e, deus do céu, 10 coisas que eu preciso saber sobre o desenho do filho que eu não tenho.

Parei de sentir o gosto dos alimentos e não recomendo a ninguém. Mal durmo, mal como e reparei que tanto tenho me magoado  quanto ofendido as pessoas com certa frequência. Fui ontem ajustar meu relógio, numa sala quente e inóspita onde um senhorzinho brincava de acertar ponteiros. Eu rezava para não perder a hora, quando ele me surpreendeu dizendo: “Não há problema algum com seu relógio”. Consenti, desolada. O problema, moço, é esse tempo que não para.

 

Há um rio afogando em mim

Não sei se é porque as coisas no país, de modo geral, andam tão ruins, mas eu dei para perceber a delicadeza sutil de alguns gestos. A generosidade de um novo colega de trabalho, o café compartilhado, o convite para dividir um almoço quando nem se sabe se há comida à mesa. Eu vejo flores em todo mundo. Menos no Bolsonaro, no Bolsonaro não.

Andei viajando pelo sertão do Piauí e comprovando aquela máxima de que o deserto faz brotar belezas. Estive com gente verdadeiramente acostumada com a dureza – ali, nada vem fácil: só se come o que se planta, o perto é longe, o tempo corre diferente, e não sou eu que vou chegar com o frenesi da vida na cidade grande, cheia de coisas pequenas, pra ditar um novo ritmo. O jeito foi sentar, botar os pés no rio, aceitar que às vezes a gente é mais parte do acontecimento do que mero espectador. E, no geral, é daí que surgem as melhores histórias.

Há um rio afogando em mim... secando... secando...

Há um rio afogando em mim… secando… secando…

E aí que num dia rude como ontem, uma mensagem despretensiosa – dessas que a gente grava no Whatsapp e depois fica ouvindo, perplexo com a diferença entre o modo como achamos que falamos e o nosso verdadeiro timbre – me trouxe um carinho na alma. Mais um nome que sai da minha lista de fontes e passa a ocupar o grupo de amigos, não por elogiar o meu trabalho. Sou vaidosa, gosto que as pessoas gostem de mim. Mas é mais que vaidade. É a simples coincidência em nosso modo de ver o mundo, a importância similar que damos mais ou menos as mesmas coisas e a leveza com a qual tentamos encarar a vida. E também o jeito fora dos padrões de cortar a pizza.

Meu coração está partido por um monte de motivos, mas o principal deles é, talvez, que eu queria entregar em mãos o violão que enviei pra Izabel, uma moça incrível que vive na margem do rio Uruçuí vermelho, uns 900 km longe de onde estou agora. Ela não enxerga e aprendeu a ouvir só o que vem de dentro. Eu imagino isso transformado em música e, de repente, penso que estou feliz.

Vamos falar de revista?

No semestre passado eu fiz um estágio docência na Universidade Federal do Piauí, como parte da experiência do mestrado em Comunicação. Ministrei a disciplina Jornalismo Especializado I, com foco em jornalismo de revista – levar a prática profissional para a sala de aula foi uma experiência gratificante para mim e resultou em alunos-amigos pra vida e duas revistas piloto lindas e originais.

13112450_1075394322531557_604901746_o.png

Desde então tenho pensado em dar continuidade a isso – compartilhar conhecimento é a melhor forma de se engrandecer – e, levando em conta que, o que acabam são os prazos, não as pesquisas, eu decidi esticar a sensação boa da troca, do papo, do ensina-aprende em semiose infinita.

Apesar do nome, Jornalismo de Revista não vai se limitar a discutir sucessos editoriais ou falar de mercado. Vamos pensar em um novo olhar sobre a pauta, o estilo magazine e o bom texto para impresso – podendo interessar a quem trabalha em jornal diário, revistas de assessorias e outros segmentos.

Para dividir a experiência comigo eu convidei Teresa Raquel Bastos, jornalista pela PUC-SP que atua há dois anos como repórter da revista Globo Rural – agronegócio, um segmento em expansão que tanto vende revista na banca quanto bomba no Twitter. Ela também teve passagem pelas revistas Época SP e Marie Claire, e pode compartilhar conosco um pouco da rotina de produção desses veículos.

O minicurso será dividido em dois dias – sexta (6) e sábado (7) -nos turnos manhã (9h-12h) e tarde (14h-17h) com carga horária total de 12 horas. Os inscritos também terão direito a certificado de participação.

Qualquer dúvida, mande um email pra mim: luana.lia.sena@hotmail.com