Quando a gente perde um grande amor, parece injusto que o resto da humanidade siga a vida normalmente.

As pessoas não podem ser felizes. Garçonete tola, por favor, tenha um pouco mais de parcimônia ao interromper aquela conversa que resume o fim, o fim de um grande amor.

16244698_1731608900198855_1432385713_o

 

Porque quando a gente perde um grande amor, a gente perde também um pouco de esperança, um pouco de otimismo, um pouco de vontade. A gente conta as horas pra ficar sozinha com o travesseiro, abraçando a escuridão.

Quando a gente perde um grande amor, chora baixinho no chuveiro, tira quadros da parede, desocupa os móveis, escolhe os discos, corta o cabelo, fura o sinal. Dirige cantando aos gritos uma música triste da Gal.

Quando a gente perde um grande amor, aluga os amigos até afogar o assunto em cerveja, champanhe ou choro. Repassa os fatos, discute os motivos, refaz as perguntas, desfaz as questões. Fica querendo reconstituir tudo até descobrir a causa, o culpado: quem matou, como morreu esse grande, imenso, amor?

Quando a gente perde um grande amor, Roberto Carlos passa, de fato, a ser rei. Entende a Marília Mendonça. Faz playlist fossa e se admira das músicas de desamor que estavam ali, o tempo todo, esquecidas, sem cumprir sua função. A função de acalantar as lágrimas, as lágrimas que lavam e levam o grande amor.

Mas quando a gente perde um grande amor, a gente ganha uma força interior gigante. Desapega da lembrança, do retrato, da vontade, da saudade. Se sente capaz de viver qualquer enredo que envolva pequeno, médio, grande ou nenhum amor.

Quando a gente perde um grande amor, a gente se pergunta se ele era, realmente, assim, tão grande.