Não é bitch de piranha, nem é beach de praia.

Duda Beat é meu crush pesadíssimo já tem um tempo e eu precisava escrever sobre ela <3

A primeira música que ouvi, como a maioria dos fãs, foi “Bixinho” – e foi só a porta de entrada para drogas mais pesadas como “Back to bad“, “Bédi beat” e “Todo carinho“. Eu fiquei completamente arrebata pelo som dessa pernambucana de sotaque sexy e que dizia tanta coisa que eu precisava ouvir.

Sinto muito” é o primeiro álbum dela, que já surge nessa onda do do it yourself e do streaming – mesmo assim, a era do consumo segmentado e totalmente sob demanda não tirou a maravilhosidade do que é fazer um disco – “Sinto muito” é uma narrativa, com começo, meio e fim, que faz sentido escutado em fragmentos mas fica muito mais bonito se seguindo a sua lógica.

 

Naturalmente a gente é levado a pensar nas inspirações – que doído ter vivido tudo isso e transformado em música. Apesar disso eu não curto a mania da imprensa de pôr rótulos: “novo indie da sofrência”. Ok que tem mais de uma entrevista da Duda confessando ter feito “Sinto muito” para três ex-boys que passaram pela sua vida – mas colocar tudo o que ela é nesse neologismo me soa reducionista, principalmente no sentido que temos dado a esse termo, o de sofrer por algo ou alguém. “Sinto muito” é um pedido de desculpa de Duda para alguém super importante que passou por sua vida: ela mesma.

Começa com a tomada de consciência dançante, pra cima: “eu vivia a flor da pele e nem percebia”; passa pelo desapego (o hit “bixinho”) e na insistência por se reconectar com o passado (“foi lá que a gente se conheceu”), até a lição ressentida (“eu aprendi a ser egoísta com você”, na faixa que contém o verso que dá nome ao disco) que muitas vezes é nada mais do que a compreensão daquilo que, bem lá no fundo, a gente já sabia mas nunca percebeu. A penúltima música, “Bolo de rolo” – isso mesmo, o rocambole de goiaba do Pernambuco é a cereja do bolo, tão gostosa e acolhedora como receita de mãe: “Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém”. Aqui em casa esse mantra foi pra minha placa de padoca, pro caderno, pros post it na parede e se for preciso vamos tatuar na testa também.

A reflexão mais bonita de todas, para mim, vem na canção que fecha o álbum: “Todo carinho”. “Eu sou de um outro tempo, amor que é pra sempre”. Bicha, eu te entendo demais. Essa música é a cara da ressaca pós-festa, aquela que você acorda tendo flashes da noite increveland e louca e é acometido por toda a solidão do mundo. Perdido na imensidão de um quarto escuro você se pergunta de que serviu tanta euforia, tanto amor infinito com hora certa para acabar e desencana de encontrar alguém que um dia corresponda a seus sentimentos, porque, afinal, “todo carinho do mundo para mim é pouco” – a linha entre a autovalorização e a extrema exigência é muito tênue e a bad bate louca, segura forte a tua mão.

Depois de me abraçar com cada uma das canções de Duda lentamente, eu passei a seguir seus passos no Instagram, em busca das datas de shows – do próximo ano não passa ver essa mulher no palco, já botei como meta pra 2019. Ai eis que a bonita, além de bonita, é cientista política e postou váaaarios #elenão na época das eleições (fez até paródia e tudo). “Meu assessor falou que não era muito inteligente eu me posicionar, mas eu pensei: será se eu quero mesmo esse público que curte uma extrema direita?”. Eu amo uma mulher sem amarras.

 

A Duda é linda, me ensinou um novo jeito de cantar e de sentir, e mais que isso, tem me ensinado muito sobre autoconfiança, amor próprio e superação. “Eu já esperava esse sucesso sim, porque eu trabalhei muito em cada detalhe”, diz na maior franqueza do mundo e eu do outro lado da tela tenho vontade de abraça-la porque se tem uma coisa que abominamos juntas é a falsa modéstia. Vejo bastante verdade em seu posicionamento político, artístico e feminino, como sujeito que sabe que é inútil achar possível se desligar desses papeis.

Duda passou sete anos tentando cursar medicina, queria ser anestesista para curar as pessoas sem que elas sentissem dor. É curioso porque ela conseguiu atingir o objetivo, só mudou os instrumentos – trocou as seringas pelos beats e acertou a batida que vai certeira no meu coração.

Para de vacilar e vai ouvir essa mulher, pra ontem!

No spotify
No youtube
No deezer

P.s: eu esqueci de comentar que esse “Sinto muito” tá entre os 25 melhores discos brasileiros do segundo semestre de 2018, segundo a APCA, que Duda vai tá no Lolla do próximo ano e que o produtor do disco é namorado dela (essa história é fofa e é totalmente a parte, rysos).