Não acho nada mole falar da fé. Talvez por isso eu tenha escrito cinco vezes um texto procurando uma perfeição que nunca vem. Antes eu tinha muita propriedade pra falar sobre qualquer coisa e achava todo mundo engraçado e interessante. Hoje não me sinto capaz nem de opinar no facebook. Minhas palavras, eu quero dormir com elas, enquanto assisto suspensa meus muros de certezas desabarem.

Aí teve esse dia almoçando de frente pro rio com meu pai, e ele comia e falava driblando a morte de um jeito que só ele é capaz: “O mundo nunca vai mudar enquanto tiverem pessoas acreditando nisso tudo”. E, sem que me perguntassem, enquanto um camaleão corria para a árvore em cima de nós, eu disse que acreditava em tudo. Acredito em tudo aquilo que as pessoas acreditam lhes fazerem bem.

Não sei quanto a vocês, mas os links que salvo para ler num futuro próximo só me deprimem. Está ali, na minha cara, uma sequência de coisas que eu quis ser e não fui. Veja como está a cidade de Edward Mãos de Tesoura, aprenda a fazer uma horta no ap, inscrição para aquele congresso que passou, nomes curiosos de operações policiais e, deus do céu, 10 coisas que eu preciso saber sobre o desenho do filho que eu não tenho.

Parei de sentir o gosto dos alimentos e não recomendo a ninguém. Mal durmo, mal como e reparei que tanto tenho me magoado  quanto ofendido as pessoas com certa frequência. Fui ontem ajustar meu relógio, numa sala quente e inóspita onde um senhorzinho brincava de acertar ponteiros. Eu rezava para não perder a hora, quando ele me surpreendeu dizendo: “Não há problema algum com seu relógio”. Consenti, desolada. O problema, moço, é esse tempo que não para.