Luana Sena

Amar e escrever à máquina

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Você sofre, se lamenta, depois vai dormir

Oi lindas, hoje vou ensinar como se recuperar de uma fossa em cinco passos :)

1) Faça o que precisar fazer para parar de sofrer pelo passado, sem se preocupar com o futuro.

Aqui vale de tudo: excluir o ex do facebook, bloquear no insta e whats, cortar relações com amigos em comum (desculpa sociedade), apagar fotos, jogar caixas de lembranças na lata de lixo (FRÁGIL: cuidado, moço, aí vai meu coração quebrado). Se joga no recalque, aceita tua dor de cotovelo. Vale tudo. Menos matar pessoas (porque sim, essa ideia passa pela cabeça). De resto, não precisa ter medo de parecer infantil, imatura, nem se apegar as lembranças por medo da tua autocrítica no futuro. Só tu pode se julgar, mas tu também não precisa ser cruel contigo. A gente muda mesmo, e não tem problema nenhum se arrepender mais na frente por ter se desfeito daquelas cartas ou ter escrito aquele texto: tudo isso fez parte do que você foi um dia, foi necessário pro teu processo. Aceita. Vida que segue. E isso tem um total de zero problemas.

2) Mude o seu caminho – literal e metaforicamente.

Provavelmente você aprendeu as melhores rotas e atalhos com seu último namorado. Você sabe fugir do trânsito, você tem ótimas referências de caminhos e lugares, sabe chegar de olhos fechados naquela sorveteria onde iam todo sábado a tarde. Mas tudo agora parece um campo minado – é preciso ter cuidado em cada esquina para não doer. Portanto, minha amiga, mude o caminho. Pede uma pepsi twister ao invés de coca. Não tem destino de uma rota só – existem n caminhos, n maneiras de chegar num mesmo lugar – aliás, você pode nem querer chegar a lugar nenhum e tá tudo certo também. Bora passar por aquela rua nova, cajuína é ruim pra caralho e se perder faz muita parte. O google maps tá aí pra isso.

3) Coloque novamente os óculos.

Eu sei como é isso de parar de enxergar. Tenho 3 graus de miopia e passei os últimos dois anos achando que esse acessório não me favorecia – eu não queria ver ninguém, e era ok ser guiada por quem segurava a minha mão. Veja bem, ele era os meus olhos. Mas ele nunca pediu pra ser. Eu apenas me sentia protegida e certa de que os óculos só eram necessários em casos de andar só – o que eram momentos extremamente raros. Quer dizer, é o contrário. Eu andava sempre junto, mas constantemente só. Agora eu ando só, mas me sinto sempre um monte. E uso óculos. E fico linda.

 

4) Pode chorar, mas não deixe nunca de dormir por isso.

Não precisa, amiga, mascarar a dor. Pode chorar sim, pode chorar muito, mas vamos fazer o seguinte: sempre que você chorar, aproveita esse tempo pra refletir sobre o que tá doendo, entende teu sofrimento, vive ele um bocadinho mas depois te levanta. Vai pro mundo lindamente, como se você estivesse plena – ninguém precisa te ver por dentro. As pessoas vão olhar e dizer que tu tá ótima, que tá linda, que tá bem, tá tudo show – porque é até mais fácil pra elas aceitarem que passou no tempo que elas julgam adequado passar – mas deixa. Chora no teu quarto, com teu travesseiro, mas depois para e vai dormir. Não perde o teu sono por isso, porque perder sono dá espinha, olheira, e se virar noite chorando o teu olho vai ficar parecendo picado por marimbondo. Vai por mim.

5) Em nenhuma hipótese esqueça o lado bom.

No fim, é tudo uma questão de ponto de vista. Há males que vem para o bem, tudo que acontece de ruim na vida da gente é pra melhorar e etc. Você com certeza já ouviu essas teorias e achou clichê, ou, presa na sua angústia, não conseguiu observar que é só mudar o ângulo de visão para perceber o lado bom das coisas. Qualquer coisa. Pra mim, por mais óbvio que isso possa parecer, tem sido revelador. Separar de uma pessoa foi ao mesmo tempo me reconectar com outras. Esquecer de alguém foi a minha forma de lembrar de mim. Trabalhar muito agora é só um jeito de ter sapatos novos e perder o celular foi o pretexto pra comprar um novo. É um exercício diário, mana. Em passos curtos. Vai tentando. Sabe que horas a noite é mais escura? Instantes antes do amanhecer.

 

 

A terapia, ouça a terapia

Eu conheci a Luana, talvez, no momento mais conturbado da minha vida.
É bem significativo que a circunstância tenha sido essa, você pode dizer, porque na profundeza que eu estava afundando, qualquer mão podia ser considerada uma boia.

Obviamente, escolhi pelo nome.
Mas também pelo método que, pesquisei, ela utilizava: a Gestalt-Terapia.

Muitas pessoas passam anos migrando de psicólogo para psicólogo, sem conseguir se encontrar com nenhuma abordagem. O processo é tenso, cansativo, imagino, e por isso digo que tive muita sorte pois encontrei, logo de cara, uma boa terapeuta e uma abordagem que me contemplava.

A Gestalt tem um monte de características que se encaixam comigo: a maioria dos filósofos que Luana lê são existencialistas, é uma terapia de contato (ela pode me contar coisas dela e opinar sobre as minhas), está em constante busca pelo nosso equilíbrio (quem não?) e promove novas formas de olhar para a vida, onde nada é definitivo (graças a deus). Além disso, essa coisa do foco estar no como, e não no porquê, tem tudo a ver com a corrente teórico-metodológica que eu utilizo no mestrado e que bagunçou – pra melhor – a minha vida: a Análise de Discursos. Basicamente, eu e Luana falamos a mesma língua.

Com o tempo as sessões ficaram leves e gostosas. Não preciso nem dizer que no começo, além de estranhar tudo, você ainda é julgado por procurar auxílio de um profissional em um mundo onde TODOS OS BONS PSICÓLOGOS ESTÃO COM AGENDA LOTADA. A gente tem que urgentemente rever isso, porque, ou o mundo tá todo pirado, ou a gente é que é só preconceituoso mesmo.

Eu ouvia, de pessoas que eu amava: “Pra que tu vai gastar 200 reais pra chorar lá, chora em casa mesmo”. Mas eu persisti, por mim, pela minha saúde mental, e não deixei – com muita luta – que nada disso me abalasse. E todas as vezes que eu usei minha sessão para chorar, eu estava crescendo.

Também ouvi que isso tudo era besteira, que o primeiro passo era a gente ignorar COISAS QUE EU SENTIA. Essa opinião, além de insensível é extremamente ignorante, porque qualquer manual de como tratar alguém com depressão que você pode facilmente acessar no Google começa por: aceitar que está doente e procurar auxílio.

Enfim, eu tô contando isso tudo, que são experiências extremamente pessoais, porque muita gente tem me perguntado sobre como é e por onde começar a terapia. Senti necessidade de vir falar desse tabu que é. Tá passando da hora da gente encarar que a doença mental é uma realidade, um problema de saúde como qualquer outro, que deve ser tratado e que, com a ajuda de profissionais, da família e dos amigos, é possível a gente combater para que não evolua. Foi isso que eu fiz e me orgulho.

Estou aí no corre há alguns meses, não me arrependo, e não imagino mais a minha vida sem minha xará. Eu já mandei email de madrugada num momento de muita angústia, e só da resposta vir rápida, carinhosa e tão atenciosa, fez uma diferença enorme em mim naquele dia. Não se iluda que é como conversar com amigos ou com a mãe: as pessoas, elas estão sempre cheias de dedo pra nos dizer muita coisa, ou dão conselhos muito pontuais, porque elas estão prenhes de sentimentos e expectativas sobre nós – ou mesmo porque é sempre mais simples opinar a respeito da vida alheia. A terapia é outra coisa. É conversar com você mesmo e, de vez em quando, levar um tapa na cara.

Mas nem sempre é só choro e tapa.
Na última sessão, perdemos longos minutos falando do filme Fragmentado. Foi quando Luana soltou linda e fofa:  “se você não fosse minha paciente, seríamos grandes amigas”.

A terapia do som que faz bem.

 

E o passado é uma roupa que não nos serve mais

Querida Luana do último novembro,

como você está bonita cinco quilos mais magra e com essas olheiras que lhe dão ao mesmo tempo um ar de intelectual e preguiçosa. O manequim caiu pra 36 e você, finalmente, caiu na real. O novo corte de cabelo foi a última decisão acertada do verão.

Gostaria, se me permite algum conselho, que você parasse um pouco de chorar, só por um instante, e abrisse a janela para perceber uma coisa: aquela árvore ali, que esqueceram de podar, cresceu tanto que escondeu o pixo no muro e, ainda que cortem os galhinhos e ele volte a aparecer, saiba, Luana, ele não faz mais nenhum sentido. Não significa nada além de um spray desbotado sob a tinta descascada de uma velha construção. E é assim que tudo isso se acomoda agora na parede do seu coração.

Nos últimos dias você se sentiu tão confiante que estaria orgulhosa. Arrumou as malas, pegou estrada, comeu pastel de rodoviária, banhou de porta aberta, foi pro cinema, mergulhou no mar e caminhou sozinha na praia, molhando os pés com as ondas que brincam de vai e vem, quando isso lhe pareceu poético. Estudou feito uma louca pra uma prova e descobriu: o que você enfrentou, menina, foi uma crise de identidade brabíssima. Estou feliz que esteja, aos pouquinhos, resgatando só o que importa de você. Conhecer, se reconhecer, se reinventar – tem umas coisas que, aliás, nem sabemos ainda dar os nomes, mas elas estão acontecendo e sabemos o mais importante: sentir.

Você achou um boy magia numa festa gay (esse dia foi engraçado). Depois beijou alguém muito mais interessante. Você se culpou, se perdoou, ficou confusa, ficou feliz. Começou a ler Cortázar sem entender muita coisa, baixou os filmes do Oscar, arrancou páginas de um caderno velho porque achou que é chegado o momento de escrever uma nova história. E isso não será possível se você não parar de ler insistentemente o último capítulo, certo? Toca pra frente, criatura. Caminha.

Ah, você também arrumou um novo emprego – que parece velho, mas você também não está mais tão nova, convenhamos. O trabalho pode ser o mesmo, mas você mudou, mulher. E é isso que nos importa aqui. Vamos ver como  se comporta em sua versão mais paciente, destemida, que pedala até o trabalho, parou com o açúcar e acha que as horas do dia, que agora lhe parecem longas e angustiantes, estão curtinhas de tanta coisa pra fazer, ver e viver.

Há poucos dias você estava de frente para alguém que lhe dizia: a vida é feita de ciclos.
Uns precisam terminar para que outros comecem.
Ele estava coberto de razão.

Mas o que ele não te disse, minha filha, é que o ciclo que inicia agora é infinitamente melhor.

 

 

Que vontade de te ter, iphone

Eu estava nessas bads absurdas que acometem a gente num domingo, e eis que uma amiga ligou e disse: “tô passando, desce”. Eu botei um body – porque se você está em 2017 e não tem um body asseguradamente você não é ninguém – pintei a cara e me senti poderosa. Hashtag partiu balada.

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3 mojitos depois eu estava na chuva, de calça branca, fazendo trenzinho ao som de Asa Branca. Ninguém sabe me dizer porquê. Alguém(eu) teve a ideia muito maravilhosa de tomar umas duas pingas pra espantar o frio (??) e eu achei coerente. A gente dançou, a gente riu, a gente se perdeu, alguns beijaram na boca. A gente voltou no carro cantando o hit do meu carnaval – clica aqui pra tu ficar por dentro e balançar a pélvis.

E a última coisa de que me lembro é da Siri falando comigo desesperadamente. Sim, eu vi aquela mancha enorme de água no meu iphone, mas eu achei que se ele dormisse no arroz tava tudo ok – no outro dia, nós dois acordaríamos lindos e secos e seríamos plenamente felizes, como sempre foi.

Não rolou. E diante daquela maçã insistente aparecendo e sumindo pra mim no visor, eu recorri a uma assistência técnica: não recomendo. Um lugar cheirando a aroma de difusor barato, onde eles te cobram 50 reais só pra abrir e dar um diagnóstico evasivo sobre teu celular. E os dois dias que eu passei esperando por isso foi pior que ter um parente na UTI. Juro pra vocês – e podem julgar – que eu fiz até promessa.

Ele não voltou. E não venha me recriminar se parece que estou falando de um iphone 7 plus, porque na verdade era um modelo 5c amarelo com uma lasca de queda no canto inferior esquerdo, vestígios de uma dona inegavelmente cuidadosa. Não me importa, eu amava ele. E de toda a sucessão de perdas que enfrentei nos últimos tempos, essa sem dúvida foi a mais cruel, estúpida e brutal de todas. Iphone, por que me abandonastes?

Me causa profundo estranhamento que ninguém tenha criado o guia de como viver sem celular na modernidade tardia. Eu estou ha 14 dias, 72 horas, 32 minutos e 22 segundos sem meu telefone móvel e, no momento, com crises controladas de abstinência das redes sociais. Se você me acompanha no Instagram, adianto que eu não te bloqueei. Eu apenas não tenho mais o aparato técnico necessário pra exibir felicidade na internet. Talvez também não tenha agora a felicidade, mas isso é um detalhe mínimo.

Meu deus, o Twitter. Quantas vezes não teria este app me livrado de tentar a morte? Devo a esta rede e a eficiente produção de memes de seus usuários todas as horas que passei gargalhando e livre de toda a angústia existencial. Esqueça os antidepressivos, faça imediatamente uma conta no Twitter, esse é meu conselho pra humanidade.

E aí que vai chegando o carnaval, né. E eu tô solteira sem 3g, sem Tinder, sem Whatsapp, sem poder postar nem um stories purpurinada nas mil e trezentas redes que agora aderiram a isso contra a nossa vontade. Eu nem tenho esperança de ainda saber usar esses aplicativos quando eu voltar pra esse universo – a mudança frequente exige constância, quem sou eu offline na fila do pão? Ignorando o fato de que, além de tudo, smartphones servem para fazer ligação, eu nem vou relatar o fato de que distribui uns currículos por aí e estava estranhando o fato de ninguém ter entrado em contato.

POR POMBO CORREIO, CARA PÁLIDA??

Então, se você é possivelmente um patrão, fala comigo no face ou manda um email.
Eu juro, eu tô super a fim.

 

UPDATE: Ninguém sabe mais o que é esperar 5 minutos sem posar pra uma selfie, tá dando aquela conferida rápida nas mensagens, ou vagar sem rumo pelo facebook. É completamente doentio. Ontem eu fui na casa de uma amiga sem avisar por whats e me senti um E.T. Falar nisso, onde vocês pagavam contas antes dos apps de banco? Existe um lugar pra isso? Dinheiro em papel, boleto? Sério?

Do tempo que transforma todo amor em quase nada

Quando a gente perde um grande amor, parece injusto que o resto da humanidade siga a vida normalmente.

As pessoas não podem ser felizes. Garçonete tola, por favor, tenha um pouco mais de parcimônia ao interromper aquela conversa que resume o fim, o fim de um grande amor.

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Porque quando a gente perde um grande amor, a gente perde também um pouco de esperança, um pouco de otimismo, um pouco de vontade. A gente conta as horas pra ficar sozinha com o travesseiro, abraçando a escuridão.

Quando a gente perde um grande amor, chora baixinho no chuveiro, tira quadros da parede, desocupa os móveis, escolhe os discos, corta o cabelo, fura o sinal. Dirige cantando aos gritos uma música triste da Gal.

Quando a gente perde um grande amor, aluga os amigos até afogar o assunto em cerveja, champanhe ou choro. Repassa os fatos, discute os motivos, refaz as perguntas, desfaz as questões. Fica querendo reconstituir tudo até descobrir a causa, o culpado: quem matou, como morreu esse grande, imenso, amor?

Quando a gente perde um grande amor, Roberto Carlos passa, de fato, a ser rei. Entende a Marília Mendonça. Faz playlist fossa e se admira das músicas de desamor que estavam ali, o tempo todo, esquecidas, sem cumprir sua função. A função de acalantar as lágrimas, as lágrimas que lavam e levam o grande amor.

Mas quando a gente perde um grande amor, a gente ganha uma força interior gigante. Desapega da lembrança, do retrato, da vontade, da saudade. Se sente capaz de viver qualquer enredo que envolva pequeno, médio, grande ou nenhum amor.

Quando a gente perde um grande amor, a gente se pergunta se ele era, realmente, assim, tão grande.