Eu conheci a Luana, talvez, no momento mais conturbado da minha vida.
É bem significativo que a circunstância tenha sido essa, você pode dizer, porque na profundeza que eu estava afundando, qualquer mão podia ser considerada uma boia.

Obviamente, escolhi pelo nome.
Mas também pelo método que, pesquisei, ela utilizava: a Gestalt-Terapia.

Muitas pessoas passam anos migrando de psicólogo para psicólogo, sem conseguir se encontrar com nenhuma abordagem. O processo é tenso, cansativo, imagino, e por isso digo que tive muita sorte pois encontrei, logo de cara, uma boa terapeuta e uma abordagem que me contemplava.

A Gestalt tem um monte de características que se encaixam comigo: a maioria dos filósofos que Luana lê são existencialistas, é uma terapia de contato (ela pode me contar coisas dela e opinar sobre as minhas), está em constante busca pelo nosso equilíbrio (quem não?) e promove novas formas de olhar para a vida, onde nada é definitivo (graças a deus). Além disso, essa coisa do foco estar no como, e não no porquê, tem tudo a ver com a corrente teórico-metodológica que eu utilizo no mestrado e que bagunçou – pra melhor – a minha vida: a Análise de Discursos. Basicamente, eu e Luana falamos a mesma língua.

Com o tempo as sessões ficaram leves e gostosas. Não preciso nem dizer que no começo, além de estranhar tudo, você ainda é julgado por procurar auxílio de um profissional em um mundo onde TODOS OS BONS PSICÓLOGOS ESTÃO COM AGENDA LOTADA. A gente tem que urgentemente rever isso, porque, ou o mundo tá todo pirado, ou a gente é que é só preconceituoso mesmo.

Eu ouvia, de pessoas que eu amava: “Pra que tu vai gastar 200 reais pra chorar lá, chora em casa mesmo”. Mas eu persisti, por mim, pela minha saúde mental, e não deixei – com muita luta – que nada disso me abalasse. E todas as vezes que eu usei minha sessão para chorar, eu estava crescendo.

Também ouvi que isso tudo era besteira, que o primeiro passo era a gente ignorar COISAS QUE EU SENTIA. Essa opinião, além de insensível é extremamente ignorante, porque qualquer manual de como tratar alguém com depressão que você pode facilmente acessar no Google começa por: aceitar que está doente e procurar auxílio.

Enfim, eu tô contando isso tudo, que são experiências extremamente pessoais, porque muita gente tem me perguntado sobre como é e por onde começar a terapia. Senti necessidade de vir falar desse tabu que é. Tá passando da hora da gente encarar que a doença mental é uma realidade, um problema de saúde como qualquer outro, que deve ser tratado e que, com a ajuda de profissionais, da família e dos amigos, é possível a gente combater para que não evolua. Foi isso que eu fiz e me orgulho.

Estou aí no corre há alguns meses, não me arrependo, e não imagino mais a minha vida sem minha xará. Eu já mandei email de madrugada num momento de muita angústia, e só da resposta vir rápida, carinhosa e tão atenciosa, fez uma diferença enorme em mim naquele dia. Não se iluda que é como conversar com amigos ou com a mãe: as pessoas, elas estão sempre cheias de dedo pra nos dizer muita coisa, ou dão conselhos muito pontuais, porque elas estão prenhes de sentimentos e expectativas sobre nós – ou mesmo porque é sempre mais simples opinar a respeito da vida alheia. A terapia é outra coisa. É conversar com você mesmo e, de vez em quando, levar um tapa na cara.

Mas nem sempre é só choro e tapa.
Na última sessão, perdemos longos minutos falando do filme Fragmentado. Foi quando Luana soltou linda e fofa:  “se você não fosse minha paciente, seríamos grandes amigas”.

A terapia do som que faz bem.