Ontem entreguei, finalmente, a minha dissertação de mestrado. 147 páginas de dor e sofrimento – bem Maria do Bairro mesmo. Fruto de noites mal dormidas em dois anos – e mais uns quebrados – de pesquisa. Aproveitei o calor da emoção e preparei diquinhas que podem ajudar graduandos/mestrandos/doutorandos na reta final (porque eu agora tô essa pessoa que nem defendeu e acha que já pode sair ensinando coisas por aí):
1) O primeiro passo é abrir mão da perfeição. Eu passei um bom período travada com a minha pesquisa, porque eu achava que ia fazer algo pioneiro, inédito, esplêndido, espetacular, digno de prêmio. Acabei sofrendo para fazer ter nexo a coisa mais simples do mundo de dizer. Não vai rolar, sabe. Desce do salto. Assume que, por mais que você tente um novo olhar, a sua pesquisa sempre vai tomar como base autores que a precedem. Não tem nada nunca dito antes – talvez o que você possa é atualizar ou dizer de outra maneira. Mas vai por mim: quando você entende isso, fica mais fácil fluir a escrita.
2) Tire o elefante das suas costas. No começo do mestrado, eu encarava tudo com muita empolgação e disciplina. Não que eu tenha exatamente relaxado – você nunca consegue totalmente. Vão ser dois anos tentando se divertir pensando na sua problemática de pesquisa, dois anos economizando em ~brusinha~ pra comprar livro, dois anos pensando duas vezes antes de ir para festa porque não pode se dar ao luxo de ficar de ressaca no domingo de manhã e não estudar. Mas, quando você entende que alguns processos ao longo do percurso são mais importantes do que tanta rigidez, o elefante emagrece alguns quilos. E isso faz muita diferença. Aceite que cada um tem seu tempo, tem necessidades distintas, ritmos desiguais e urgências muito particulares. Se você aceitar isso e deixar de se cobrar tanto – mas não ao ponto de perder os prazos por desleixo – a pós-graduação pode ser sim uma experiência leve e linda.
3) Entenda como um processo de autoconhecimento. O seu trabalho final é importante? Monografia, dissertação, tese? É. Mas ele não é, nem de longe, o que mais importa. Ao menos para mim, não foi. Sei todos os pontos fracos da minha pesquisa – ninguém mais do que eu consegue identificar isso – e talvez o principal deles seja a incapacidade dela em reunir tudo que eu vi/vivi/senti/cresci nesses últimos anos. Ela tenta, mas não dá conta de toda a experiência. Ela reflete, mas não a traduz. O período do mestrado desencadeou em mim uma crise de identidade, transtorno de ansiedade e um estágio pré-depressivo – tudo decorrente da desterritorialização avassaladora que sofri. Foi ruim mas foi bom – foi quando pela primeira vez me senti tão perto dos sentimentos mais humanos, todos de uma vez. Faz bem banhar de piscina, imergir. Tentar ouvir teu barulho interno, se olhar no espelho, cortar o cabelo. Se você estiver passando por isso: calma. Respira que vai passar. E não é balela quando fazem aquela metáfora da borboleta. Depois que esse casulo explode, você só pode voar, cintilante, para cima.
4) Se dedique, mas não deixe de viver. Como diz a profa Ana Maria: “o mestrado tem que ser um projeto de vida, não de morte”. Eu me cobrava muito isso, ao ponto de que no começo não queria fazer mais nada na vida, fora estudar e me dedicar aquilo. O que aconteceu? Nas primeiras derrotas eu me senti um fracasso: nota vermelha, artigo recusado, bronca de orientador. Também percebi que me obrigar a ficar em casa estudando, quando eu não rendia, não fazia o menor sentido e ainda me torturava. Chegou ao ponto que eu não tinha mais interesse em sair nem ver ninguém, porque todo mundo parecia meio óbvio e desinteressante – comigo foi a fase angustiante do ouvido sensível. Foi uma dor até adestra-lo. E ok que haverá noites em que você vai preferir ficar com alguns filósofos pirados do que com muita gente normalzinha por aí. Mas não vai demorar muito e você vai cansar de tanta erudição e vai pôr Foucault de volta na prateleira enquanto ouve Maiara e Maraisa.
5) Não subestime o tempo passando. Gente isso é muito sério. Isso é o mais sério. Todas as dicas anteriores você pode pular, mas essa aqui, anote e guarde dentro do coração. A gente se boicota toda hora com o tempo. Eu, pelo menos, sou a rainha do “amanhã eu faço”. Deixo tudo pra última hora, tô sempre correndo contra o relógio e culpando Murphy. Mas a verdade, meus amigos, é que ninguém é mais culpado das coisas não darem certo do que euzinha. Sempre ali, me puxando o tapete. Procrastinando, procrastinando. Daí dá às vésperas de entregar a dissertação e você tá lá, desconhecendo trechos que você mesma escreveu. Você começa a agradecer silenciosamente a todos os livros que precisou recorrer em desespero e já estavam fichados (<3), porque jamais daria tempo de reler tudo. Ah, outra dica valiosa é não confiar na memória. Nunca. Outro dia fui salva por uma anotação do meu primeiro dia de aula no primeiro dia do mestrado. Anote tudo, guarde tudo, organize tudo. Isso é mais importante até do que ser inteligente ou disciplinado. Se não precisar usá-las depois , pelo menos vão servir de recordação: você vai reler, um dia, e ver o quanto aquilo tudo sempre fez bastante sentido.
Segue firme e de nada :)