Victória Holanda

Fica, vai ter post!

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Etcetera e tal

Alívio. É um passo de cada vez. Sem cessar. Pra correr daqui. Pra libertar. Que faz engatinhar. Apaixonada. Sem mais nem menos. Você não me amou. Superar. Extravasar. Saber pra serve aquilo. Coração faz tum tum tum. Um abraço precisa de dois corpos. Quem disse que eu não sei desenhar? Essa tarde vou empinar pipa. Você já foi ao cinema? São dois pra lá, dois pra cá. Rebola, desce até o chão. Ele pode porque é menino. O sinal abriu. Quem foi esse filho da mãe que buzinou na minha traseira? Dar a seta. Pare! Pedestre. Respeite os mais velhos. Você sabe assobiar? É um passo de cada vez. Nada é pra já. Hoje, meu cabelo tá legal. Por favor né?! Senta que lá vem história. #gourmetizado. #dicadodia. #vdc. #fériasnohavaí. Você sabe dançar? Mãe, me empresta essa bolsa? Agora eu tô aqui usando esse recurso que um monte de gente usou. Disse que não ia casar, nem ter filhos. Ave maria! Pra quê isso? Joga o lixo fora. Passa roupa. Lava louça. Já te disse que você tá bonita hoje? Mas só hoje. Viu o mar aos 12 anos pela primeira vez. Tinha que ser mulher no volante. Mulher tem que pagar as próprias contas. Ser bem-sucedida. Mas não pode ficar pra titia. Tem que estar feliz. Na próxima parada. Se arrependeu. Gostou. Ai, que delícia. Correr. Correr mais. Mais ainda. Sem parar. Não pode cair. Se cair, tem que levantar. Última da fila. 10 pães massa grossa, por favor. Desculpa, vai ficar tudo bem. 52 kilos e 300 gramas. 1,67 de altura. Não sei quanto de busto, não sei quanto de quadril. Olha o carro! Quase foi atropelada…Você viu o noticiário? Que tragédia. Saber rodar. No salão. De saia rodada. Rodar até ficar tonta. Pra cair no chão. Dessa vez, não precisa levantar. Julgada. Eu te avisei. Alô? Pai? Liguei só pra saber se tá tudo bem. Manda um beijo pra vó, tá? Tem que descansar. Louca. Doida. Pirada. Lé lé da cuca. Pisando forte. Firmeza. Robusto. Tem que saber fazer. 5,6,7,8. Plié. Battement tendu. Vai mandar que horas? Abre seu e-mail, tá lá. Uma barata. Mata! Uma estrela de Hollywood. Desfilando na passarela, que lá vem ela. Quem mandou? Com licença, senhora. Own, mas é fofo. Quantos meses? Tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades. Amor I Love You. Fica pra próxima. No pain, no gain. Você pode vir me buscar? Medo. Saudade. Cheiro de bolo de laranja. Sessão da tarde. Café com peta. Aquele filme cult dos anos 60 hiper-mega-power alternative. Não vi. Eles formavam o casal perfeito. Morreu de que? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Caminhar na praia. Panela velha é que faz comida boa. Satisfação. Patinar no gelo. Frio na barriga. Ansiedade. Saltar de para-quedas. Adrenalina. Quebrar a cara. Declarante, aos costume disse nada. Mas você disse que sabia nadar. Respiração boca a boca. Diz que em Marte existe vida. Não olhou para trás. Foi embora.

Lista para 2016

Quando eu era criança, acreditei fortemente que o mundo acabaria na virada do ano 2000. Na ocasião, minha família viajou para Fortaleza e, entre outras aventuras, envolveram-se em uma batida de carro. Era um sinal: ninguém escaparia no reveillon.

Passaram-se 15 anos e, talvez para se protegerem de iminentes tragédias diárias, todo mundo tem algum tipo de prece ou mandinga para essa época. Dos tradicionais sete pulos nas ondas do mar e uvas obrigatórias até uma oração especial para algum santo protetor.

– Feliz Natal, feliz Ano Novo!

São coisas que até os menos próximos dizem automaticamente.

– Saúde e muitas felicidades!

Dizem os familiares e amigos nas redes sociais e aos telefonemas. Até nos fazem crer que algo melhor pode estar mesmo por vir.

Então, de repente, na ceia de Natal, você enxerga mais rugas nos seus avós ainda vivos, mais cabelos brancos nos seus pais reunidos raramente e, por algum motivo, alguns primos ou tios não estão presentes naquela noite. A família parece estar ficando menor.

Apesar de não entender, até hoje, porquê um pinheiro iluminado na sala de estar é tão indispensável, entendo que tem mesmo, ao passo em que vamos ficando mais velhos, algum tipo de preocupação crescente dentro da gente. Antes, o mundo poderia acabar numa noite de fogos de artifício, agora, o medo de não poder ver seus avós ou abraçar seus pais pode tomar conta de você.

Subitamente, você se pega repensando sua lista de desejos para o ano que vem, que se arrasta ao longo do tempo num pedaço de papel rabiscado…

 

Passaçãun

Certamente esta palavra não está no dicionário. Se estivesse, também não se escreveria assim. Talvez no lugar da terminação “un”, seria um “o”. Essa palavra, na verdade, só existe dentro de determinado círculo de amizades. É uma dessas gírias que algum dos seus amigos criou e se aplica bastante à situação emocional comum à todos quando estão juntos.

Com sua licença poética, passaçãun vem do termo “se passar” e quer dizer se divertir. Quem “se passa”, diverte-se e diversão é o mesmo que “passaçãun”. Tem até um derivado: “sipa”, abreviatura de “sipassando”. Ou seja, quem está “sipassando”, está se divertindo muito.

Passada a fase de tradução dos neologismos dessa geração que, seguramente, adora fugir às regras de escrita do português correto e tradicional, vou explicar de onde veio falar desse termo, que é mais que um estado de espírito, é uma filosofia de vida.

Sexta-feira fui a um show numa boate e tenho que dizer: nunca “me passei” tanto na minha vida. “Se passar” é algo mesmo transcendental. É alcançar uma condição de espiritualidade fora do que seu corpo está acostumado. É dançar até os pés ficarem dormentes, transpirar até o cabelo ficar pingando de suor, gritar todas as suas músicas favoritas até ficar rouca e, depois, cair em exaustão. E mais: é não ligar para o que os outros podem estar pensando de você.

Quem não alcançou esse nirvana, precisa experimentar. Se permitir a isso é atingir o autoconhecimento. Aquele de que a vida também pode ser divertida.

Titia Vitola

Outro dia eu estava voltando de uma viagem e minha mãe me mandou uma mensagem, dizendo que tinha uma ótima notícia pra me dar. Pensei em qualquer bobagem do dia a dia e, ao chegar em casa, sem muitas expectativas, ela me disse meio acanhada, porém escancarando um sorriso enorme que eu vou ser…tia!

Tia Vic! Só consegui pensar em um serzinho que nem conheço ainda me chamando de titia Vitola!

A partir de então, eu ganhei uma tarefa: aprender a ser tia! O que é que as tias fazem? Fiquei pensando que tem livros para as mamães, para os papais, mas e tia? Faz curso onde?

Tem uma lista de coisas que preciso aprender a fazer, obviamente, mas já estão começando a ser listadas – ainda me restam alguns meses. Por outro lado, tem coisas que tiro de letra (ou penso que tiro), como incentivar essa criança que está por vir a ser o que ela quiser!

Inclusive, meu irmão preferiu que eu não escrevesse sobre o assunto por enquanto. Obedeci até que me fosse dada a permissão. Porém, a gente sabe que nem sempre isso vai acontecer, certo?

ERRADO!

Os pais são bravos e suas decisões são soberanas.

É como se as tias ficassem grávidas por tabela. Eu me sinto quase uma mamãe, só que sem a parte difícil.

Afinal, ser tia deve ser dar aquele doce escondido antes do almoço, lembrar-se daquele pequeno ser humano em cada passeio, conhecer amigos imaginários, ouvir confidências e segredos de uma pessoinha que não é sua, porém é como se fosse.

Ser tia deve ser pura diversão. E também deve ser apoio, compreensão e muito carinho.

Deve ser também levar para a escola quando os pais não podem e pensar que depois de alguns dias sem ver, a criança já vai ter aprendido a andar e falar sem você.

É esquecer todas as brigas de infância com seu irmão e deve ser ficar totalmente desarmada ao ouvir pela primeira vez a palavra “tia”, saindo de uma boquinha miúda.

Deve ser sentir orgulho do primeiro passo, do primeiro dia na escola e até da primeira desilusão amorosa.

É um amor por um bocadinho de gente que eu ainda vou descobrir, mas já sinto que vai ser insubstituível.

O poliamor das leituras

Eu sou promíscua. Calma, que eu vou explicar. É que eu me apaixono por vários livros ao mesmo tempo. Deve ser falha de caráter, transtorno psiquiátrico ou prato cheio pra psicólogo que adora uma disfunção mental. O fato é que eu não consigo começar uma leitura e terminá-la completamente para começar outra. Quando percebo, estou envolvida em um emaranhado de leituras que disputam minha constante atenção e esperam que eu termine algumas páginas da outra leitura para retomá-las em seguida.

É um jogo de sedução. Você flerta com uma leitura, namora a capa, lê a orelha, folheia duas ou três páginas e já é tomada por um desassossego de querer ler tudo até o final. Acontece que nesse meio tempo, as leituras menos avantajadas intelectualmente, desprovidas de simultânea leveza e profundidade perdem espaço para um livro de poesia que estava na geladeira, esperando um momento de solterice ou iminente traição literária. Ele te fisga em pleno dia de cão, momento que você só precisa percorrer algumas páginas de maneira despreocupada e, subitamente, encontra-se perdidamente apaixonada por aqueles versinhos curtos, porém de uma eloquência arrebatadora.

Fica difícil levar dois relacionamentos ao mesmo tempo. Um romance complexo e detalhista que lhe toma tempo, porém é insubstituível, enquanto uma poesia sedutora mexe com os seus sentidos. No meio desse fogo cruzado, você se sente culpada e quer voltar para a realidade e se pega lendo crônicas de Rubem Braga! Uma compulsão obsessiva incontrolável. Pior que não se contenta com um livro só, quer dois, três, quatro, uma orgia literária: quer todos ao mesmo tempo!

Tem gente que é cegamente fiel. Começa e termina um livro, sofre uma deprê pós-término até se sentir apto a se envolver com novos livros. Coisa de gente que tem olhos para uma leitura só.

Tem gente que não sabe o que quer. Começa um livro, não termina, começa outro, não termina também. Quando vê, não terminou livro nenhum nem deixou uma explicada justificativa. Deve ter largado por aí muitos corações literários partidos, decepcionados e frustrados, que vão demorar a se recompor para se deixar serem lidos novamente. Um sofrimento.

E tem gente que é que nem eu. Às vezes, desiludida ou entediada com determinado envolvimento literário, começa um novo flerte. De vez em quando, eu me apaixono perdidamente, porém não são raras as circunstâncias decepcionantes. Nessa busca por outras perspectivas, procurando preencher esse vazio causado pelas leituras, acaba se formando um enorme abismo provocado por enredos mal-escritos, personagens enfadonhos ou até mesmo a monotonia da rotina de leitura.  São ciladas que, às vezes, a gente dá o azar de cair nessa troca do certo pelo duvidoso.

O ruim é que nem sempre você encontra colo nas outras leituras. Mas é coisa de gente que não presta mesmo e adora a aventura de experimentar livros novos. O risco do desengano é grande, mas tem prazeres que compensam os perigos.