Era quase 13:00 quando chegou uma mensagem inesperada por WhatsApp de uma amiga de longa data. “A Ju se matou, não conta pra ninguém ainda”. Tremi, a fome que chegava naquela hora se tornou um grande buraco no meu estômago e as letras no computador se embaralharam. As vozes das outras pessoas na redação ficaram cada vez mais longe e, imediatamente, eu me lembrei da última vez que a vi.

– “Acabei de pagar uma conta de partir o coração”, disse ela estampando um sorriso, quase debochando dessa obrigação.

Eu almoçava no shopping com a mesma amiga que me deu essa notícia devastadora e nós a encontramos acompanhada do marido. “Vou comer um Subway”, disse se despedindo. Rapidamente baixei os olhos e pensei: “Tá todo mundo na mesma pindaíba…”.

Mas não estávamos. Com frequência, encontramos os amigos e nos identificamos com as lutas diárias, mas subestimamos a profunda dor de cada um.

Enfrentar leões, enfrentar/ Passar por cima de uma coisa que tá no lugar da outra/ Mordida, a pele fica ferida/ Prossiga no rastro, no pasto e siga a vida/ Por fim, a tristeza é amiga da onça/ Ensina a enfrentar leões (Karina Buhr, “Dragão”)

Enquanto eu engolia em seco, estática por alguns minutos, outros amigos ficavam sabendo da mesma notícia. No ônibus, em casa, no trabalho. Talvez tenham passado da parada que iam descer, talvez tenham deixado o arroz queimar, talvez não tenham conseguido trabalhar o resto do dia, talvez tenham chorado um pouco, talvez tenham chorado copiosamente, talvez…

O dia estava nublado, quente e o ar parecia mais pesado. Distraída e ansiosa, passei o resto da tarde tentando cumprir os compromissos que tinha em vista, com esforço. Talvez tenha sido o que a Ju vinha tentando fazer.

À noite, todos se reuniram para se despedir. Que triste reencontrar as pessoas por esse motivo. Em meio aos abraços e palavras de conforto me lembrei de uma conversa virtual, em que ela me convidava para sua formatura.

– “Eu vou pra colação Juzinha. Finalmente né?!”

– “Finalmenteee”.

Finalmente né Ju? Finalmente…