Hoje fui parar em uma playlist aleatória sugerida pelo Spotify e a primeira música que me deparei foi Cajuína. Que piada, Caetano: “Existirmos: a que será que se destina?”.

Peito de exilado é assim. Por um momento a gente pensa que foge do mormaço, da cerca de muro baixo, de olhar o outro e se reconhecer até demais, mas bate a testa na Torre de Babel da língua, da distância, do mar que é gelado, da saudade que não resolve com chamada de Whats App, do quarto de 10 m² que não cabe muitos sonhos.

À distância de um oceano, assistimos com culpa o colapso de um sistema em ruínas, reclamamos em uníssono os lamentos em tweets, sabemos de mais alguém que fez as malas e partiu, somamos faltas às listas de casamentos, festas de aniversários, formaturas e presenças na vida de quem importa.

Em meio à poeira, esforço de chegar, esforço de salvar, esforço de resistir, esforço de alcançar, esforço de aceitar, esforço de ficar. A alma é imigrante, mas a carne é filho caçula que foge de casa e não vê a hora de voltar. Na companhia de alguma lágrima mais teimosa, a frequência bate em xote lento, os passos seguem incertos e o coração remendado, palpitando da coragem que resta.