Espero a água ferver no bule, esquento o almoço requentado no micro-ondas, checo se a porta está mesmo fechada várias vezes. Acordo subitamente no meio da noite, a TV ainda ligada, baixinho. A água do meu chuveiro voltou a vir forte de novo, oba! Seguimos riscando itens, modo piloto automático, devastados.

Às vezes levo ração para os gatos que moram no meu condomínio e que eu nem gosto, faço compras e fico orgulhosa em cuidar de mim. Estou sempre com a sensação de que esqueci alguma coisa. Eterna disputa com os ponteiros do relógio, sempre atrasada. Pego atalhos, fujo do trânsito, do que é improvável, do que não tá na minha lista.

Mas diante do imprevisível, a gente reza.

Gosto de acordar tarde, de ter a casa arrumada, de fazer um prato especial só pra mim. Acendo uma vela, escondo o choro, dor fincada no peito. Uma parte de mim acha que tá perdendo alguma coisa, perdendo tempo, perdendo amigos. Um fiozinho fino e elástico, que se puxar demais arranca e se soltar desmancha.

A gente desvia da topada no asfalto, do assalto, do acidente de trânsito. Numa noite tem os amigos aqui com a gente, na outra a gente não sabe. E sofremos.