Quando eu era criança, acreditei fortemente que o mundo acabaria na virada do ano 2000. Na ocasião, minha família viajou para Fortaleza e, entre outras aventuras, envolveram-se em uma batida de carro. Era um sinal: ninguém escaparia no reveillon.

Passaram-se 15 anos e, talvez para se protegerem de iminentes tragédias diárias, todo mundo tem algum tipo de prece ou mandinga para essa época. Dos tradicionais sete pulos nas ondas do mar e uvas obrigatórias até uma oração especial para algum santo protetor.

– Feliz Natal, feliz Ano Novo!

São coisas que até os menos próximos dizem automaticamente.

– Saúde e muitas felicidades!

Dizem os familiares e amigos nas redes sociais e aos telefonemas. Até nos fazem crer que algo melhor pode estar mesmo por vir.

Então, de repente, na ceia de Natal, você enxerga mais rugas nos seus avós ainda vivos, mais cabelos brancos nos seus pais reunidos raramente e, por algum motivo, alguns primos ou tios não estão presentes naquela noite. A família parece estar ficando menor.

Apesar de não entender, até hoje, porquê um pinheiro iluminado na sala de estar é tão indispensável, entendo que tem mesmo, ao passo em que vamos ficando mais velhos, algum tipo de preocupação crescente dentro da gente. Antes, o mundo poderia acabar numa noite de fogos de artifício, agora, o medo de não poder ver seus avós ou abraçar seus pais pode tomar conta de você.

Subitamente, você se pega repensando sua lista de desejos para o ano que vem, que se arrasta ao longo do tempo num pedaço de papel rabiscado…