Conheci Chandelly produzindo a Revestrés#24. Minto. Conheci primeiro o Dackson numa noite qualquer no Campo e disse “quero, por favor, ver você montado”.

Ele não ficou eufórico, disse apenas um “vamos marcar”. Trocamos telefones. Marcamos e desmarcamos várias vezes. Até que um dia rolou isso.

Na última semana, todo dia Montaria aparecia na minha timeline. Eu tinha que sair da toca para ver isso, mas talvez não pudesse. Até que o amigo Áureo Júnior escreveu: “Hoje vi Dackson montando Chandelly, vi Chandelly montando Dackson. Vi também um animal montado no homem que virava o bicho e vi uma bicha montada na mulher virada num homem…”.

Eu tinha que dar um jeito.

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Fui no último dia de apresentação do espetáculo financiado pelo Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna. Um anfiteatro improvisado numa das salas da Escola Estadual de Dança Lenir Argento. Chandelly recebia o público intimista, distribuindo um souvenir. Tirava fotos e cumprimentava amigos. Às 20h15 agradeceu a produção, destacou a presença de sua mãe na plateia e recomendou desligar os celulares. Bom espetáculo a todos.

E então, meus amigos, aconteceu o transe. Na sala iluminada somente por luz negra não conseguimos definir quem aparece nu. Dackson, Mikael, Chandelly está lá completamente seguro e despido de qualquer pudor.

A narração de sua trajetória é engraçada e comovente. Parece que estamos interrogando-o num papo informal, e, descontraído e a sua maneira, enquanto mostra total domínio e habilidade com o corpo, a voz do artista vai levantando questões que passam pelo preconceito, aceitação, bullying, homossexualidade, poliamor, didáticas questionáveis (a professora que tampou sua boca com fita adesiva), democracia (a metáfora quase infantil é ótima) e legitimação da arte (“o governo apoiando um viado”).

Depois o autocontrole parece sumir e Dackson é então dominado por outro ser, que surge na confusão entre a música, o neon e o jogo de luz e sombra proporcionado pela solução simples e de efeito fantástico da produção de Adriano (“ele é a alma da Chandelly”). O artista nos encara e a linguagem já é dispensável para entendermos as sensações.

Destaque para o corpo escultural da(s) criatura(s), completamente perfeito em qualquer instância momentânea que pretende ocupar: homem, gay, drag, mulher. Não há sobras, não há déficit. É um corpo belo em movimento pleno e preciso.

O espetáculo acaba e estamos, todos, emocionados.

Fiquem de olho em Chandelly.
Fiquem muito de olho em Chandelly.