por Wendy Augustus Cavalcante

 

Das poucas vezes que chove em Teresina, quando bate aquele clima meio frio e nostálgico, eu fico me questionando sobre a minha existência. Será que estou vivendo ou apenas estou no automático fazendo as mesmas coisas de sempre? Passando pelas ruas vejo sempre as pessoas com pressa, com algo para fazer, e naquele instante novamente me pergunto: O que eu vou fazer da vida? Essa pergunta me persegue todos os dias. As vezes me bate um desespero, um alarme de urgência que diz “FAÇA ALGO”, mas eu continuo parado, olhando as pessoas ao meu redor, perdido sem saber qual caminho seguir.

Talvez você já tenha passado por algo assim ou talvez você esteja seguindo perfeitamente seu projeto de vida. O filósofo francês Jean-Paul Sartre defendia que ser autêntico é seguir um projeto de vida. A maioria das pessoas tem um padrão de querer ter um bom emprego, um ótimo salário e casar, por exemplo. Se tudo estiver indo bem, sem mudar uma vírgula de lugar: parabéns!. Você chegou no seu elevado nível de autenticidade. Por mais interessante que seja, eu ainda prefiro acreditar que ser autêntico é justamente não ter um projeto. Não que não seja preciso, às vezes até é. Outro filósofo, o dinamarquês Kierkegaard, afirmava que o ser autêntico é aquele que vive e procura possibilidades, sendo esse o motor da vida. Eu prefiro esse pensamento. No mundo de hoje, repleto de imediatismo, de multidão e de uma autoafirmação constante, as pessoas procuram por conforto, e não sei por que, mas é confortante quando você vê que esta seguindo os mesmos passos do seu primo que passou para um concurso e ganha muito dinheiro. Sabe por que é tão reconfortante? Porque nós temos medo de olhar para nós mesmos; medo de olhar e perceber que falta algo; medo de ter consciência das nossas vontades. Por isso, às vezes é melhor fechar os olhos e só seguir a multidão. A verdade é que vivemos em um mundo de iguais, de pessoas que procuram ser tudo, menos elas mesmas.

A midia reforça esse tipo de padrão, ao colocar as pessoas em caixas sem embalagens. Os jornais e a televisão estão exteriorizando situações, pessoas, momentos, mas acabam esquecendo o que é seriedade, pois qualquer coisa vira notícia. Assim, o homem acaba esquecendo de si, da sua verdade, pois a sua verdade não é aquela que está sendo exposta, a verdade é sua. Dessa forma, o individuo não reflete mais sobre si ou sobre sua existência, se deixando consumir por um amontoado de sub verdades ou falsas mentiras. O mundo vira um grande espetáculo, porém você não é o protagonista, e aquele que não desfruta da sua existência acaba sendo um mero espectador da sua própria vida. Dessa forma, ele pode até conhecer o mundo, mas não conhece a si mesmo.

Por mais que algumas pessoas estejam vazias, perdidas, angustiadas ou até mesmo desesperadas, por mais que a maioria das vezes continuam inertes em suas próprias vidas, não quer dizer que elas não possam desfrutar das suas possibilidades de vida. O ser humano é grande, ele tem um universo inteiro dentro de si, cada corpo celeste é uma possibilidade, somos feitos e consumidos por essa energia que se chama vida. E viver, meus amigos, não é só estar vivo, organicamente falando. Viver é saber que somos pequenos corporeamente, mas grandes internamente. Podemos até ser todos iguais e talvez isso não mude por mais que vivamos em um mundo assim, ainda podemos olhar para esse mundo de uma forma diferente, com amor, carinho e empatia. É nisso que quero acreditar a cada dia que acordo: que não importa o que aconteça ou como estou parado assistindo as pessoas seguirem suas vidas, quero acreditar que na manhã seguinte haverá um mundo cheio de possíveis projetos, possíveis realizações, acreditar que mesmo sendo diferente, eu posso ser feliz também, acreditar que talvez um dia eu não sofra por estar indo contra a multidão. No final temos que acreditar que coisas boas vão acontecer, porque o que nos motiva e nos move, é a esperança de um mundo melhor.