por Dani Marques

 

Eu não queria que esse fosse mais um texto clichê sobre a maternidade, daqueles que te esfregam na cara aquela perna não depilada, a unha cheia de cutícula sem previsão de retorno à manicure (ainda bem que não tenho essa vaidade), mas de uma certa forma ele vai ser clichê, não sei como.

A maternidade carrega consigo muitos significados, e aquele que mais pesa, é o de que ser mãe é a coisa mais romântica que já se viu. Logo porque a maternidade é a nota fiscal de que a mulher cumpriu sua obrigação social enquanto mulher, e a partir de agora nenhuma cobrança mais recairá sobre ela, (antigamente isso vinha atrelado a um casamento bem sucedido, mas isso é outro papo), o que é bem enganoso. No mais, somos levadas a crer que criar um filho é viver num mundo onde as nuvens são de algodão doce, com um céu lilás de bolinhas amarelas.

Quando você se torna mãe, ninguém te fala que ao tentar arrumar um novo emprego, é do interesse do empregador saber quem vai ficar com sua cria. Não sei o que isso tem a ver com a minha capacidade, ou não, de assumir um cargo, ou um projeto. Mas a pergunta foi feita. Um dia desafiei os homens da minha timeline a me dizerem qual deles já tinham passado por esse questionamento. Quantos responderam? Nenhum. Sabe por quê? Eles não passam por isso.

Ninguém também te fala da p* da solidão materna. Esse é ainda é um lance meio complicado de entender. Você deve tá se perguntando “mas, ué?! você tem sua cria, logo nunca mais estará sozinha!”. Ledo engano, caro leitor (sempre quis dizer isso, me achei até escritora agora). Filhos são para o mundo. Repita comigo: filhos são para o mundo. Não exija essa obrigação deles. Aliás, de ninguém (fica a dica de autoconhecimento e exercício de amor próprio). É um estar sozinho mesmo que rodeado de muita gente, e até dos filhos, é ser incompreendida, e julgada, na luta diária. Eu vou te dar um exemplo: vai num pronto-socorro infantil,

veja quantas estão ali sozinhas com seus filhos, veja quantas queriam estar acompanhadas nesse martírio, e não tinha ninguém que quisesse acompanhá-las. Outra: sabe quando põem a culpa na mãe sobre má educação filhos? Isso também é solidão materna, porque a obrigação disso recai unicamente sobre nós, é como se o mundo nos dissesse que estamos sozinhas nessa, afinal, quem pariu Mateus que o embale. Solidão é o lugar-comum de toda mãe.

E pra fechar, ninguém te diz que ser mãe, é ser excluída. Sim, não basta ser o que sociedade exige pra toda mulher, mas a partir do momento que você se torna, você é excluída. Não é exagero. Vai ser mãe no meio acadêmico e me diz. Vai ser mãe-solo no meio acadêmico e me diz. (Foi repetido de propósito, apesar de que muitas mães que vivem o casamento, ou tem algum companheirx, são tão sozinhas na empreitada quanto as que são solo). Afinal, quem vai querer trabalhar com quem tem horários corridos, loucos (às vezes nem temos horários), que mal consegue se organizar, com quem abandona tudo quando o filho tá doente? Quando somos privadas de frequentarmos certos lugares por causas de nossas crianças? Isso é apenas um dos exemplos de quando e quanto nós, mães, somos excluídas. Existem muitas outras situações…

Ser mãe é muita coisa, mas não é esse romantismo todo que dizem por aí. É padecer, sim! Só que não é no paraíso, porque esse mundo, tá cada dia mais um inferno. É você procurar todo dia aquele seu eu do passado, e ter o desafio de conciliá-lo com o novo ser, a mãe. É resistir, quando o corpo pede pra desistir.

Parir é um ato político, e romantizar, passa muito longe disso.