por Nayara Barros

É isso mesmo o que você leu: tudo o que ensinaram a você como uma educação de “menina” não serve de absolutamente nada no mundo das vitoriosas, das que lideram grupos de pesquisa, das que são eleitas, das boas mães que terão que enfrentar um mundo cruel para cuidar de seus rebentos, das que são levadas a sério por homens e mulheres sérios em todos os lugares que ainda valem a pena nesta Terra. A timidez e o pudor são falsos artifícios que diminuem e até destroem o imenso potencial que você tem para exercer sua liberdade e voz de criação e de comando no mundo. Eu também recebi essa educação e a melhor coisa que fiz por mim, na minha vida, foi ir me livrando desse peso aos poucos.

Não tenha receio em dar a última palavra, mulher! Em precisar falar mais alto, em não admitir ser desrespeitada, em não admitir o assédio do colega de trabalho, do professor da universidade que assedia as estudantes oferecendo aprovação por sexo, ou de algum velho tarado sentado em um desses cafés da cidade, achando que pode ditar o tamanho dos shorts das adolescentes (assédio e pedofilia, o nome). Abandone o pudor e essa mania de pedir desculpas por existir e exerça sua coragem! Mostre o dedo do meio, xingue com o que você aprendeu com seus irmãos e primos, grite bem alto para expor quem tentar invadir seu espaço e quem tentar diminuir sua existência humana. E mais: se for um caso mais grave, chame uma amiga e denuncie o caso para a polícia. Existem delegacias para a proteção das mulheres e, apesar de muitos cínicos desejarem, não, elas não serão extintas.

Quando o caso não te colocar em risco de vida, junte suas amigas e faça um escracho ao vivo ao energúmeno que quiser te diminuir, mulher! Mande calar a boca! Faça uma batucada, palavras de ordem, cartazes desaforados, caras pintadas de batom vermelho, lenços verdes cobrindo o rosto e até seios à mostra, se for o caso (não é o meu método favorito, mas vai que a situação exija?). “Pixos” de pintas amolecidas e vaginas exaltadas! Inspirem-se em Kollontai, que alerta sobre o perigo da falsa moral do pudor e nas Guerrilla Girls, que denunciam a arte feita da mais pura objetificação da mulher! Inspirem-se em Esperança Garcia, que, mesmo ameaçada, ousou escrever para denunciar seu malfeitor e defender a si e aos seus. Exija retratação às instituições responsáveis! Que seja obrigado a estudar feminismo e gênero e frequentar reuniões de homens dispostos a abandonar a masculinidade tóxica – conheçam a história de Terry Crews (Julius, o pai do Chris de “Todo Mundo Odeia o Chris”), assistam ao documentário “A máscara que você vive” (tem na Netflix).

Que seja o-bri-ga-do a nos ouvir e a mudar até aprender que: A MULHER NÃO É CULPADA PELA VIOLÊNCIA QUE SOFRE, NÃO IMPORTA A ROUPA QUE USE! MULHERES DE BURCA SÃO ESTUPRADAS NO ORIENTE MÉDIO! O ESTUPRO VEIO ANTES DA MINISSAIA! E eu não acredito que tive que falar sobre isso DE NOVO, em pleno ano de 2019, no dia do meu aniversário!

Mas voltando à falsa moral: o pudor mata! Nos mata aos poucos quando escondemos do mundo nossos dons, que poderiam servir a todos, nos mata silenciando os abusos que sofremos e nos mata de verdade, quando estamos em um estado com os mais altos índices de feminicídio. O pudor não é charme, não é caminho para ser amada. O pudor é a arma que vão usar para você se tornar um objeto sem sentimentos ou desejos próprios. Não deixe o pudor te destruir! Destrua ele primeiro e reine você mesma dentro de si, mostrando a sua beleza humana e plena ao mundo!

O mundo quer você livre, mulher! Esse é o seu primeiro passo.