Por Malú Flávia Pôrto Amorim

 

Estava no provador de uma loja de roupas, dessas de uma grande rede de fast fashion, quando ouço:

– Essa roupa é assim porque é plus size.

– O que é plus size? – pergunta uma voz infantil.

– É roupa de gente gorda.

Roupa de gente gorda. Essa frase ficou ecoando na minha mente durante um bom tempo. Com um certo incômodo. Confesso que não compreendi ainda muito bem o que me causou esse incômodo. Não foi o tom da jovenzinha, que não foi feito de forma depreciativa, mas creio que me incomodou por fazer pensar em segregação.

Não é novidade que pessoas gordas tenham dificuldades para encontrar roupas que sirvam. As lojas costumam disponibilizar tamanhos P (pequeno), M (médio) e G (grande). Às vezes um GG (extra grande). Contudo, mesmo os tamanhos maiores são roupas complicadas… Primeiramente, tamanhos grandes nem sempre são realmente grandes. Deve ajudar muito na autoestima constatar que nem um tamanho grande serve, não é mesmo? Segundo, roupas grandes costumam ser ampliações. Ampliações burras. Pessoas gordas são mais largas, mas não necessariamente mais compridas. Porém, se você observar uma calça em tamanho maior, vai observar que além da largura, as pernas parecem querer vestir alguém com pernas de pau. Ei, lojas: as pernas não crescem com a gordura! Terceiro, roupas que não seguem o padrão de tamanho das letrinhas e sim um padrão numérico possuem um grau de dificuldade maior para abarcar pessoas que vestem tamanhos maiores. Até determinado número de tamanho encontram-se roupas. Os outros são mais difíceis.

Para resolver esse problema, muitas lojas começaram a disponibilizar seção de roupas plus size. Este tipo de roupas é desenvolvido pensando num público específico, tentando pensar em suas necessidades. Temos aí uma outra questão: a moda não tenta valorizar corpos gordos. Então as roupas criadas costumam ser bastante conservadoras, transformando todos num grupo sem estilo. Difícil expressar identidade no vestir desse jeito. Atentas a isso, marcas têm surgido para suprir essa lacuna, criando peças variadas, descoladas e acompanhando as tendências. Pessoas gordas também querem estar na moda. É um avanço? Sim. Porém, ainda não se encontram seções plus size em todas as lojas, avalie roupas não caretas.

Se elas são difíceis significa dizer que são uma extraordinariedade. Foge do simples, do comum, do cotidiano. Mas não deveria. Afinal, não é tão difícil encontrar gente gorda na rua. Necessitar criar uma categoria diferenciada de roupas exclusiva traz a sensação de exclusão deste grupo das outras pessoas, como se não pudessem participar de forma igualitária nem do consumo, nem da moda, que são, em tese, democráticas. As roupas deles e as nossas roupas. Não bastaria apenas fabricar as roupas que já são desenvolvidas em tamanhos que sirvam? A indústria transforma o próprio ato de excluir em estratégia de marketing “ei, nós pensamos em você, veja só, fizemos roupas pro seu perfil que não encontrava nada”. E cola!