Por João Caetano Linhares

 

O que Star Trek, uma série que se passa num futuro tecnológico e cooperativo, e Mad Max, um conjunto de filmes que também se passa num futuro só que distópico marcado pela violência e competição por coisas das necessidades básicas, poderiam ter em comum? Eu diria que eles possuem em comum o fato de serem arquétipos de futuros possíveis. Futuros disponíveis para nós a partir de nosso atual horizonte de decisões. Podemos escolher entre eles e estamos escolhendo.

Heidegger defendia que pelo menos duas características são distintivas do ser humano: o estar-lançado e o pro-jeto. O estar-lançado é ser aí com os outros, já o projetar-se consiste em conceber o futuro. Todos os outros animais também estão lançados, o que nos distingue é o fato de sermos capazes de compreender este aspecto da nossa existência. Por outro lado, o projetar-se pertence apenas a nossa espécie e consiste num calculo sobre o futuro.

É neste sentido que Star Trek e Mad Max nos são interessantes. Como uma espécie de calculo sobre o futuro. Devemos decidir se vamos cooperar e dar lugar para o nosso lado mais racional ou nos entregar a competição irracional até não sobrar mais nada digno do humano. Digno do Humano: aquilo que nos distingue como ser humano. Pois se reduzidos as meras volições viveremos aquilo que uma vez Agamben chamou de vida nua.

As perspectivas mais otimistas veem como algo possível uma virada para o bom senso, que sejamos capazes de usar a ciência para o progresso humano, algo que só pode se dar se for mais ou menos equilibrado nas desigualdades objetivas. O professor Elielton Sousa é parte dos otimistas. Em seu livro “As Virtudes da Responsabilidade Compartilhada” (2017), ele amplia a ética das virtudes de MacIntyre de modo a dar lugar para a importância que todas nós temos com todo o planeta, com a própria existência. Ou seja, ele é um desses autores que pretendem fornecer o material necessário para que sejamos capazes de ainda ter esperança.

Já eu, apesar de não ter ainda sistematizado nenhum texto a respeito, faço parte dos pessimistas. Não acredito, e esta é uma crença não justificada teoricamente mas tão somente uma impressão, que seremos capazes de resolvermos todos os problemas humanos e naturais que causamos ao longo dos últimos séculos. Por fim, acho que o que nos aguarda é Mad Max, a beleza da violência sem medida, e não a beleza tecnológica de Star Trek.