Por Herasmo Braga
Há frases que marcam e levamos para a vida toda dentro de nós. Há livros que também nos modificam e nos levam a outros caminhos nas nossas vidas. Unir livros e vida, modificações e caminhos, são fontes ricas de aprendizagens que reconhecemos, mas pouco efetivamos.
No final de cada leitura há a satisfação pela aprendizagem, como também, as reflexões advindas das experiências nela narradas e por nós sentidas. Nos livros, os trechos marcantes nos orientam sobre a interpretação da obra, como também expandem nossas ideias e percepção sobre o mundo. Como não lembrar no trecho do romance de João Anzanello Carrascoza, Aos 7 e aos 40, em que a mãe ensinava o filho menor a ler, enquanto o mais velho zoava porque o irmão ainda estava passando pelo processo de aprendizagem. Então, a mãe volta-se para o mais novo e diz: “Não se preocupe, meu filho, hoje você aprende a ler as palavras, amanhã estará a ler as pessoas”. Isso é algo que a boa leitura nos proporciona: ler para não fazer julgamento das pessoas, ler sem doutrinação, ler para expandir-se, ler para contemplar, ler para ver. Ler para viver!
Em outra leitura como Ulisses, de James Joyce, imergimos no dia 16 de junho nas vidas de Leopold Bloom, Stephen Dedalus e da senhora Molly Bloom. Leitura pretensiosa, extensa. Obra de muitos comentários e raros leitores. Ao final do romance, nos deparamos com frase cintilante de Molly Bloom: “Sim, eu digo que sim”, isso nos revela a satisfação não só de reconhecer a grandeza da obra, mas de como um único dia nosso é extenso, complexo, simultâneo e de uma infinitude de coisas que apenas os nossos olhares automáticos nos privam de perceber o sem-fim de sucessões das coisas com os seus entrelaçamentos, contradições aparentes e harmonizações formativas.
Assim são as ideias a circular pelas linhas dos livros e da vida, advindas de realizações estéticas apresentadas pela profundidade do olhar de quem, através dos livros, vivencia efetivamente o mundo.