Por Herasmo Braga

 

Comum ouvirmos ou lermos sobre desejos e sonhos de inúmeras pessoas de se tornarem escritores. Não importa a idade, condições, experiências. A vontade de ser escritor é o que impera.

Excêntrico como, neste processo, não há indícios de intentos relacionados em se tornar um leitor. Alguns podem acreditar que, ao se manifestar ser escritor, se subentende ter sido antes leitor. Leitor de grandes obras e de grandes ideias. Todavia, na ânsia de ser um, no caso, escritor, desconsidera-se ser antes o outro, efetivamente. Os motivos levados para tal desarmonia são diversos e conhecidos, tais como vaidade de se diferenciar do comum, ser celebrado, destacado e por aí vai.

Não há grandes narradores porque não há grandes leitores de narrativas.- Herasmo Braga

Em um dos textos mais conhecidos de Walter Benjamin, O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, a figura do narrador é problematizada. Diz-nos em um dos trechos: “São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente”. Associamos a esta ideia a outra condição por nós mencionada: não há grandes narradores porque não há grandes leitores de narrativas.

Em outra passagem, Benjamim acrescenta: “A experiência que passa de pessoa a pessoa é a fonte a que recorreram todos os narradores”. É esse o efeito provocado pelas grandes narrativas em seus leitores: a troca de relevantes experiências. Todavia, para ocorrer esta vivência/experiência, a condição básica é lançar-se na factual realização da leitura constante das grandes narrativas. Sem pressa para o término da leitura ou mesmo buscar quantificar obras lidas.

Lucáks, no livro A teoria do romance, ao atribuir elogio ao texto épico, evidencia uma das maiores realizações, que consiste: “Ao sair em busca de aventuras e vencê-las, a alma desconhece o real tormento da procura e o real perigo da descoberta, e jamais põe a si mesmo em jogo; ela ainda não sabe que pode perder-se e nunca imagina que terá de buscar-se. Essa é a era da epopeia”. Assim são nos grandes feitos, nas grandes narrativas dos grandes autores, que são dirigidas para os grandes leitores das grandes narrativas, com o intuito de, no primeiro momento, termos a perda de nós em que, posteriormente, irá significar o ganho ao nos reencontrarmos em razão das novas significações conquistadas.

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