5 anos – quando eu era criança, frequentei uma creche a dois quarteirões de casa por alguns meses. Não queria que ninguém me levasse pelo braço: sabia que eu mesma poderia trilhar aquela jornada, carregar meus próprios livrinhos e minha lancheira do Batman herdada do meu irmão. A Edinês, funcionária lá de casa, ficava me observando do portão até ter certeza que eu tinha entrado e que não seria raptada. Então, todas as manhãs, eu seguia sem olhar para trás.
12 anos – eu era vizinha de dois colegas da minha turma na escola e, às vezes, pegava carona. Uma tarde em que teria atividade extra, minha mãe me mandou ir com eles. Por algum motivo entre desobedecer a uma ordem e se sentir independente, resolvi que iria de ônibus, sozinha. Peguei o caminho oposto e, antes que eu chegasse, ela me viu da janela, me deu um grito e me mandou subir. Eu ainda a desobedeceria muitas vezes e, na maior parte delas, eu estaria errada.
18 anos – dos quatro vestibulares que fiz nessa época, um deles era para o Rio de Janeiro. Decidi ficar. Não foi a primeira, mas com certeza não foi a última vez que decidi ficar ao invés de ir. Desde então e, por alguma razão que não a reconheço, tenho decidido ficar mais. Será que a coragem de estar sozinha foi embora sem mim?
24 anos – Estar sozinha deixou de ser escolha e virou condição. Se eu quiser pegar a estrada ou um avião, ninguém vai me gritar do 4º andar e me mandar voltar. Se eu quiser fazer uma tatuagem, está tudo bem, contanto que eu pague a internet, faça supermercado e bote gasolina. Se eu quiser jantar cerveja, quem se importa? O fato é que nunca foi tão bom, tão difícil e tão solitário estar só.