Nada me acontece por acaso. Tudo com o tempo se conecta e arranja um jeito de se justificar. Ou seria possível também dizer o contrário, que tudo é o acaso e esse acaso apenas me espanta? Bom, mas isso é só um jeito de introduzir a história de uma Iguana no asfalto.

Nos meus textões no Facebook (olha o referencial: para a pressa das redes sociais são textões; para o que costumo ler é quase nada) comentei um dia desses sobre a minha tristeza em não ter representação feminina no parlamento à altura das mulheres da minha terra. O que temos por aqui são corpos femininos, sem autonomia ou firmeza, usados para driblar a lei que garante um mínimo de representatividade. Em pleno 2021, estão lá dando vida a uma tragédia ambiental, sanitária e econômica.

Um dia depois aconteceu o fato que passo a narrar.

Desde março de 2020, eu não dirijo. Meu carro fica lá na garagem até que alguém se candidate a fazê-lo funcionar. Nas poucas vezes que precisei sair de casa o fiz de carona.

Um pouco antes de conseguir me vacinar (primeira dose), minha filha precisou do carro. Emprestei e o recebi de volta brilhante, sem aranhas, sem teias e sem cocô de passarinhos. Depois da vacina, ocasião em que o danado foi usado, ela precisou novamente. Ao chegar ao local de trabalho estacionou em frente à vigilância. Alguns segundos depois foi avisada de que havia um barulho estranho no compartimento do motor. Como se algo lá dentro se movesse insistentemente. Astuto, o vigilante abriu de leve o capô e avistou a ponta de um rabo comprido e esverdeado. Formou-se a confusão.

O telefone toca.

– Mãe, cê está bem? teve alguma reação à vacina?

– Tive febre e uma ligeira indisposição. Mas não virei jacaré.

gargalhamos. Senti certo alívio na voz dela.

– Que bom! A senhora não usa o carro, os bichos estão tomando conta!

Desligou e eu fiquei sem entender até receber fotos e um vídeo comprovando o dito.

Diante da minha resposta, ela resolveu chamar a polícia ambiental. Chegaram os homens corajosos e que sabem lidar com a situação. Na primeira olhada, o comandante gritou para seus ajudantes:

– Operação Iguana!

Pronto. Com muito cuidado a bichinha assustada foi colocada em uma caixa apropriada e levada daquele lugar inóspito para exercer a sua missão onde lhe é mais apropriado.

Mas o que isso tem a ver com a introdução?

Tem que uma Iguana, que nada entende de carros, sem nenhum compromisso com o funcionamento de motores, por lá se acomodou por puro oportunismo.  Da mesma forma que as mulheres sem compromisso com a população do meu Estado se apropriam dos lugares no parlamento pela inércia das demais (das que tem inteligência, conhecimento, competência e talento para a política e das muitas que não sabem diferenciar essas das primeiras na hora de votar).

Eis o recado das iguanas.

 

(Foto de Alexis Antonio, cedida gratuitamente por Unsplash License, a quem agradeço)