Dei para vagar em busca de luz. É o que me ocorre quando escurece aqui dentro. Lembrei que em uma dessas andanças, há algum tempo, reencontrei uma entrevista concedida por Oscar Niemeyer, em que ele comentava o projeto da Catedral de Brasília, lançado em 1958 e executado na década seguinte.

Dizia o arquiteto que a ideia inicial partiu do desejo de criar um símbolo de alegria e celebração da vida, tirando proveito da luz natural e da leveza da estrutura em forma circular. Um contraponto às colunas pesadas e pouca luminosidade das catedrais medievais, templos de penitência – o sofrimento para redenção de pecados.  Uma ideia provocante que me retornou, de repente, em uma tarde fria no norte da Inglaterra, em uma sala de cinema em que se exibia Philomena (Stephen Frears, 2013).

Baseado em fatos, o filme é uma tradução do livro The Lost Child of Philomena Lee, do jornalista britânico Martin Sixsmith (2009), que narra a saga de uma mãe irlandesa em busca do filho perdido. A tragicidade das histórias reais é sempre um caminho para bons resultados na construção de narrativas fílmicas, quando estas conseguem se desviar de pontos escorregadios como a morosidade do ritmo. Frears segue a fórmula da alternância de tempos, humor na medida certa e um final surpreendente para diluir a densidade do tema e o meio século que transcorre entre início e fim da trama (1951-2005), despertando no espectador o desejo de ver a última cena.

Foi exatamente essa cena que me trouxe o pensamento de Niemeyer. Embora o filme não tenha optado por esse caminho como estrutura narrativa, a jornada da mãe e a jornada do filho se desenrolam paralelamente em busca de um mesmo fim que não se realiza. No meio delas há uma instituição religiosa que se coloca como detentora de valores morais e do poder sagrado de punir a não observância deles. Imprime-se aos dois personagens uma intensa carga de sofrimento. Pecado e punição. Para ela, o pecado da sexualidade sem o sacramento religioso e como punição a perda do filho, gerado pelo pecado, entregue para adoção. Para ele, o pecado da homossexualidade e como punição a morte por AIDS, sem direito à realização de seu último desejo.

A estreiteza de algumas mentes viu no filme um ataque à Igreja Católica. Bobagem, uma vez que o princípio do sofrimento como mecanismo de redenção não é privilégio exclusivo desse grupo religioso. Tampouco a disseminação do conceito de erro ou pecado, ao qual a protagonista se submete sem conflitos interiores, a ponto de devolver à Instituição o que dela não recebeu: o perdão. Talvez se possa, com boa vontade, vislumbrar na obra como um todo um fio que nos conduza ao questionamento sobre a quem cabe a autoridade para preconizar valores, a que propósitos se empenham tais valores, e por que nos submetemos a eles cegamente.

O que me resta, então, nesse emaranhado de pensamentos que se cruzam em tardes escuras, é a compreensão de que se há ainda tempo para a esperança ela nos toca pelo belo, pelo prazer, pela alegria. A luz pode nos chegar pelos traços curvos da arte. Só ela nos faculta a possibilidade de desvio no olhar viciado na inflexibilidade das retas.