Ela não tinha mais que cinco anos quando me surpreendeu com uma pergunta repentina e vindo, assim, do nada. Até hoje não sei se a surpresa maior foi a indagação em si ou o lugar inesperado de onde brotava. Levei um tempo com aquela vozinha meiga e delicada, ressoando no ouvido: Por que a natureza nunca cansa de fazer o mundo?

A primeira ideia que me ocorreu foi o princípio de conservação da energia, que tentei arranjar em palavras simples para justificar o processo constante de transformação da natureza. Não sei se a resposta foi satisfatória. Aliás, espero sinceramente que não tenha sido para que tamanha curiosidade continue expandindo sua mente questionadora.

Passado o sufoco, pensei que talvez tivesse sido mais fácil usar uma visão religiosa para explicar o movimento da vida, mas segui meu impulso de tentar encontrar respostas na natureza. E isso terminou me levando a escrever um texto sobre o filme The Tree of Life (2011), do diretor americano Terrence Malick (A Árvore da Vida, na tradução brasileira).

Lembro que o filme me exigiu uma boa dose de paciência. Não à toa, tem como epígrafe uma citação do Livro de Jó. Logo de início, um narrador nos diz haver duas formas de viver: a forma da natureza que satisfaz a si mesma, e a forma da graça que aceita o sofrimento pela fé. Explicativo demais? Talvez, mas essa é uma chave necessária para construção dos possíveis significados da narrativa elíptica que nos chama a preencher os seus vazios. O roteiro traz duas fases da vida de Jack. Há um Jack adulto, perdido em seus questionamentos sobre o sentido da vida, buscando ainda resolver o conflito da escolha entre natureza e graça, o caminho do pai ou o caminho da mãe que lutam dentro dele desde sua pré-adolescência. Essa é, naturalmente, a outra fase quando somos levados a seguir o ponto de vista de um garoto que começa a descobrir esse mundo dividido. De um lado a austeridade e as cobranças do pai como tentativa de moldar filhos fortes, autônomos e senhores de suas vidas, e do outro a doçura da mãe acolhedora que tudo suporta, crente na generosidade e no amor como molde da mesma formação.

O grande mistério da narrativa é a trama paralela que se desenvolve na sequência de imagens sem diálogos. Às cenas que descrevem o sofrimento da família de Jack provocado por uma perda, o filme intercala imagens que refazem o percurso da singularidade à criação do universo, da formação da Terra e do surgimento da vida na Terra. O longo sofrimento de seus seres, suas transformações até chegar à consciência que forma a família texana que busca no sagrado uma luz para entender o seu infortúnio. Uma linguagem simbólica que deixa para os espectadores o questionamento sobre o que significa o sofrimento de minúsculas partículas diante da grandeza do universo. Ou, para os nossos dias: o que cabe ao homem, o que cabe às forças do acaso ou o que cabe à interposição de um Deus que tudo controla e testa continuamente a nossa fé?

O texto me retorna diante das tragédias dos nossos dias quando teimamos em não ouvir as súplicas da natureza. É fato que a incerteza sobre a origem e o futuro, a tensão gerada pelo incompreendido, acompanha o homem em toda a sua existência. Deixando a questão da fé restrita aos que a professam, o conhecimento científico aponta um caráter cíclico na evolução cósmica que impõe a tudo uma constante transformação. A vida, a morte, a regeneração.  Ouso pensar que se nossa presença na Terra acelerou em demasia o processo de morte, é urgente que busquemos nos integrar ao processo de regeneração.  Ou, a natureza pode finalmente cansar de refazer esse mundo.