Luiz Alberto Mendes
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República

A ideia de República é a de separar os poderes segundo suas competências. Montaigne os dividiu, oficialmente, em Executivo, Judiciário e Legislativo. A partir da Revolução Francesa, quase todos os países acordaram para essa composição política em suas constituições. Disso todos sabemos, mas o que temos visto é completamente diferente.

Em nosso país o Poder Executivo tem predominado sobre os outros dois. O Poder Legislativo somente aos poucos começa a sobressair e o Judiciário tem ficado como que obscurecido. Recentemente, o jogo político tem ficado mais pesado. O Legislativo tem procurado determinar os destinos da nação em uma queda de braços com o Executivo. O nosso sistema de governo por coalizão tem produzido tumulto político que vai desestruturando a estabilidade política do país. Para governar é preciso que o partido no poder negocie com os demais partidos políticos para que as leis e decretos possam ser votados a seu favor. Nessa queda de braços, o mérito não tem sido a natureza, a essência dos projetos que estão para serem julgados. Antes é o que o projeto representa em termos de poder para cada um dos trocentos partidos políticos que compõem o Legislativo.

O país não importa, importa o poder. O controle das rédeas políticas. Porquê? Porque é exatamente nesse ponto que está a possibilidade da apropriação indébita dos bens da nação. O homem comum é egoísta e tem pequena capacidade para renunciar a vantagens em prol dos outros, da comunidade humana. Ele não é cruel e muito menos mau. Apenas não tem a noção do sentido e da importância dos outros em sua vida. Perdido dessa noção, se coloca como centro do mundo e reza pela cartilha do individualismo. Acredita que a fortuna financeira que possa amealhar irá livrar sua vida, e dos seus familiares, dos males possíveis que da existência fazem parte. E, se esse homem comum chegar ao poder, pode provocar mal incalculável. O homem ordinário com poder extraordinário, é extraordinariamente perigoso para toda a humanidade.

Os ideais sociais da República de uma vida que escape da necessidade, da miséria e da fome para todos que vivem sob seu ideário, é totalmente solapado pela prática de mercado. O mercado (os bancos aí incluídos) é destituído de humanidade, embora sejam seres humanos que o manipulam. Ele acaba por fugir ao controle e se constitui em uma máquina devoradora do que a sociedade produz de melhor. Estabelece ideologias. Ter para ser; consumismo; individualismo; salve-se quem puder; cada um para si e deus para todos; neoliberalismos; meritocracias; e outras.

Aos legisladores caberia criar leis que controlassem o mercado em sua atuação lesiva à sociedade, como o Código Penal controla a ação criminosa. O poder Judiciário para interpretar e julgar as penalidades inerentes às leis e o poder Executivo para aplicar essas leis. Mas o mercado, dada sua capacidade financeira e midiática, acaba por controlar os três poderes capturando a ambição dos detentores de tais poderes. O financiamento das campanhas políticas e vantagens econômicas são os principais meios pelos quais procedem os controladores do mercado. Para que eles financiariam campanhas políticas e negociariam vantagens econômicas, senão para proveito próprio? Ficam óbvios demais seus motivos.

É o chamado capitalismo de mercado que dá as cartas e joga de mão, endurecendo o jogo político e solapando os poderes da nação. Os políticos, cada vez mais ousados por conta da punidade seletiva, estão ai, exercendo seus podres poderes. E mesmo com inúmeros processos de improbidade administrativa, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, negociações espúrias, capitais acumulados em outros países e malversação do bem público.

Recentemente a República foi golpeada quando a Presidente eleita pela maioria dos eleitores do país foi afastada do poder. Os que a derrubaram do poder e a sucederam, em sua maioria, são os políticos mais comprometidos com processos, como os citados acima. Estão implementando medidas que prejudicarão os avanços sociais do país. E a República ficou em uma “sinuca de bico”; caso prossiga o governo interino, esse não tem representatividade para exercer o poder. Voltando a Presidente legítima, seus opositores se unirão impossibilitando-a de governar. Novas eleições, além de inconstitucional, ainda seria trocar seis por meia dúzia com esse mesmo sistema eleitoral. A única saída seria uma reforma estrutural na política da nação e depois então novas eleições. Mas quem comandaria? Não temos. Homens comuns estão no poder…

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Luiz Mendes

27/07/2016.

Amar

Amar e ser amado é o que há de mais íntimo sobre nós. É quando somos chamados para além da opressão de ser somente em nós. Ser para que, então, senão para amar e ser amado?

Ser com os outros, além do interesse, do dever, da tirania do sangue e do respeito. Livre, oh sim, livre para amar uma outra vida que não é semelhante à nossa em coisa alguma e que talvez não tenhamos ousado empreender.

Não podemos gastar nossas vidas aceitando apenas que como esta ainda é melhor do que já esteve. Isso não é humildade. É medo do inusitado. Principalmente do que pode revolucionar e colocar nossa vidas de pernas para o ar. É necessário arriscar e encarar de frente. Mesmo que alguém saia magoado ou ferido.

No que é estranho há o fascínio do mistério a nos encantar. É sempre uma autonomia radical a nós e que nos abre para novas riquezas. É outra vida a nos interpelar. Carecemos aceita-la sem reservas ou censuras, acolhendo-a e crescendo com a multiplicidade que ela representa. Conscientes de que jamais será nossa e até pode ser contras nós. Estamos entrando em contato com um verdadeiro tesouro existencial.

O homem anda perdido das dimensões do próprio homem. Estudando a história parece claro que o homem abortou a si mesmo em seus momentos cruciais. O limite e a diferença sempre nos apavoraram. Ainda assim sempre ficaram vestígios. Postulados filosóficos, religiosos, utopias fantásticas, obras de arte magníficas. Há também a ação iluminada de alguns poucos, como Gandhi; Mandela; Albert Schweitzer; Martim Luther King; Chico Xavier; Madre Tereza de Calcutá, felizmente nossos contemporâneos que fizeram a grandeza de nossa geração.

A diferença é um tesouro. Por isso o amor a uma mulher é tão enriquecedor ao homem. Pela radicalidade da diferença cultural e da existência feminina. A mulher é essa dimensão perdida nos milênios de civilização feita pelo homem e para o homem. Esquecemos da complementaridade, dessa chama que nos faz conhecer o amor.

É preciso sobrepujar resistências tenazmente. O homem tem sido um projeto a se realizar. Um sonho de ser que nunca foi. Mas que podemos parir de dentro de cada um de nós com a coragem de que somos portadores. É preciso apostar no porvir daqueles que se aproximam de nós. Em suas infinitas possibilidades. Como as árvores não sabem onde cairão suas folhas, nós não sabemos o destino de nossos dias. Amanhã talvez seja tarde.

Urge lutar ao limite para incorporar que as pessoas trazem em si uma condição mais satisfatória de vida para nós. É, sem duvida, como nos relacionamos com os outros que determina o grau de nossa satisfação de viver. Cada pessoa que entra em nossa existência é um ganho. É um sol que se desenha em nosso rosto.

Amar alguém, de repente, pode ser tão enriquecedor que transcenda a idéia de ganho. Porque então é troca e comunicação total. Amar é quando todos só têm a ganhar e ninguém a perder. Tudo o que há de diferente no outro é justamente o que nos falta.

Quando só podemos contar conosco tendemos a individualizar para poder sobreviver. Então nossa vida torna-se um acontecimento secreto. A solidão nos mergulha em nossas reflexões mais insanas, absurdas e deselegantes. Este somos nós sem a referência do outro. Sem a possibilidade do amor que a outra pessoa nos trás.

Naquelas horas cruciais é que o vidro fino da sanidade parece estilhaçar-se. Quando a vida arde nas veias e queremos assaltar a nossa própria sombra, a consciência nos ensina que é preciso buscar alguém. Talvez sejamos um entrelaçamento de relações vivas unidas em um tecido indissolúvel.

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Luiz Mendes

11/07/2016.

O sobrevivente

Vivia triste, como triste vivem as pedras esverdeadas pelo musgo, nos muros antigos. Triste porque infeliz, como infelizes parecemos todos nós. Não escondia. E também não fugia. Ele estava sendo. Fazia parte de sua natureza.

Encarava tudo de frente. Sem esconderijos ou fantasias. Mesmo que apertado em sua angústia de não poder estar diferente do que estava. Havia doçura escondida por trás de seus olhos vermelhos. Apertados, numa expressão enigmática, chinesa, que parecia deixar sua vida por um fio.

Sofria de repente. Sem pressa, sem ter porquê. E gostava: quando todos fugiam, ele procurava. Sentia-se humano sofrendo. Parecia-lhe que a alegria não era natural, parte da condição humana, já que efêmera. Sentia-se melhor em hospitais que em lugares de entretenimento. Ali a vida parecia pulsar em um ritmo mais verdadeiro. Doentes, as pessoas pareciam mais reais. O resto era fuga.

Seus olhos eram secos. Dava-se melhor com os outros assim. Era capaz de compaixão e solidariedade, sofrer com as dores de seus iguais. Embora se sentisse roubado da melhor parte da vida, era feliz com sua infelicidade. Buscava a solidão. As pessoas, paradoxalmente, ao tempo que o fascinavam, cansavam. Não eram como ele, absolutamente. Sentia-se com cem anos de idade e os outros com cinco. Eram infantis em suas buscas desesperadas de fugir à solidão e a si próprias. Ele adorava estar consigo. Seu silêncio era cheio de vozes íntimas.

Ninguém o entendia e, assim, é que ele gostava. Não tinha a menor ilusão de ser entendido. E era tão obvio que chegava a saltar para dentro de qualquer um que tentasse. Mas ele temia perder-se, caso fosse possível explicar.

Todos percebiam sua densidade. Mesmo não sabendo como se aproximar, ficavam por perto, para o caso dele dizer o que jamais diria. Era muito calmo em sua tristeza. Não expressava a fúria que lhe ia por dentro. A raiva acumulada contra tudo aquilo. Por que tinha que ser assim? Perguntava-se incessantemente. Não se dava ao trabalho de responder. Era vasto demais. Sua base de poder era sua fragilidade. Sua permanente instabilidade.

Sofria sem suspiros, sem dor. Poderia se dizer que ele sofria sem sofrer. Apenas sofria de uma tristeza nostálgica que não precisava de sentido ou motivo. Pelo menos não para ele. Sua existência consistia de conteúdos que lembravam floresta úmida de chuva, verde escura.

Por dentro era um livro de infinitas páginas. Assim de uma substância palpável, algo feito de concreto e água, de mar e encantamento. Sim, oceano, desses pacíficos, atlânticos e índicos.

Triste como um blues de Baddy Guy. Um cantor, não importa se negro, cego dos olhos e longo na voz de sua boca. Garganta rouca, talvez as primeiras composições dos Stones. Jagger a expandir angels e devlins. Qualquer coisa a chocar e bater por dentro. Ao tempo em que ritual apaixonado, Nirvana e Cobain in acústico. Quase o primeiro cigarro após o café.

E era amado. Ó sim, era amado, principalmente por si mesmo. Particularmente porque não havia mentiras de si para si. Estava com os costados no paredão que existia de frente e no mais absoluto limite. Para os outros, mistério o circundava. Sim, capas que encobriam outras capas, infinitamente. O heroi irreal, embora tão verossímil.

Para quase todos, representava perigo. Como uma cobra enrodilhada. Embora fosse tão manso quanto uma noite profunda. Violentamente manso, de tanto vagar e passar. Era uma longa busca para sedimentar, acumular e consistir a soma de si. Uma cor violeta e seu perfume no ar…

Era o céu e todos os lugares, era só fechar os olhos e imaginar… Um sino a badalar horas intermináveis, esparramando melancolias no ar. Havia um fogo, um crepitar, longo e avermelhado. Todos temiam o fogo. Ele o amava. Era digno o fogo em sua necessidade. A sua tristeza era cheia de paz. Uma paz assim como pecado original, parecido com versos de Rimbaud e Baldelaire.

Sim, ele era triste, imensamente triste como flores murchando num vaso de cristal. Tão triste, mas tão triste que nem existia…

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Luiz Mendes

14/06/2016.

 

Há algo de errado

Às vezes fico a me perguntar o que há de errado com a droga da minha vida. Porque não sei mais o que fazer para compreender a mim, as pessoas e a vida. Julgar, de há muito descobri que não resolve e não é minha praia. Mas como conviver, viver todas essas coisas e não ter um juízo crítico para poder entender pelo menos o mínimo indispensável? E a desmotivação em tudo, porque tudo vira rotina? Rotina no que até a pouco era novidade. Talvez esteja assimilando depressa demais e então reste sempre essa coisa angustiante.

Nem pergunto mais o que sou. A pesquisa do que não sou ficou mais interessante. Pelo menos os elementos são novos e as possibilidades, me disseram, infinitas. Nada é simples, todavia aprendi, apenas o que se faz simples revoluciona. Às vezes sinto que me falta a dor. Na prisão, mergulhado na mais profunda dor encontrava uma estranha paz. Aquela que justifica e absolve. Um envolvimento com toda ternura e doçura que esteve sempre repleto meu coração.

Não sou covarde e muito menos herói. O problema é que tenho de viver com minha consciência. Fui obrigado a desisti do perfeccionismo, por mais esta proposta esteja entranhada em minha personalidade. Sempre me esforcei para que tudo saísse da melhor forma possível. Agora quero apenas estar o mais justo quanto possa. Passado morre longamente, como se escondesse; quase some. Futuro, já me disseram também; o caminho mais curto para chegar ao céu é atravessando o inferno. Acho que já atravessei (duvidas?) e não vi céu nenhum. Será que existem outros infernos piores que os prisionais? Se existem, tenho medo deles. O mais certo é pensar que futuro pode ser tudo, menos o que se afirma. Somente o gosto do agora existe, somente o gosto que tenho em viver cada instante, este gosto que só eu posso sentir, se esparrama pela minha boca e domina meus sentidos.

Fico pensando se é só isso. Passamos a maior parte de nossa existência como que perdidos, afoitos a um nunca chegar. Ao fim e ao cabo, já velhos, então passamos a entender o que havia de bom em cada um dos momentos vividos e como os desperdiçamos. Isso cansa. Parece que existe uma letalidade em

cada uma de nossas incoerências. Será que um homem é somente um homem e só pode ser um homem em que condição estiver? Mas e a sabedoria que me diz que sem o esforço de cada um de nós, a vida de nenhum de nós seria possível? Pessoas singulares e verdadeiramente grandes se sacrificaram, e se sacrificam todos os dias, para que tenhamos o pouco de satisfação em viver que ainda temos. Sei que isso soa ingênuo, até ridículo, mas acho que é assim porque gastamos nossos olhos naquilo que é atirado contra eles.

Acho que só resta lutar para manter viva a chama do que há de vivo, original e diverso dentro de nós. E, é claro, ir contornando a desastrosa paixão pelo poder que tanto nos tem obcecado. Acredito que as conseqüências de nossos atos nos levam a reconhecer que é nossa mediocridade e pequenez que ameaçam nossa capacidade de nos fazer felizes. Talvez reconhecer fraquezas, limites e mesquinharias seja o melhor dos exercícios porque, sem dúvida, não perceber estreitezas e tacanhez, é o pior deles.

O que há de errado com a droga de minha vida, acho é que nem sempre consigo entender e quando entendo não consigo que seja a tempo de colocar as melhores idéias em prática. Enquanto isso, as incertezas farfalham como espasmos da ventania e a vida se move em meio a vidas perdidas, estupidamente.

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Luiz Mendes

09/06/2016.

Cultura

Ainda na prisão, depois de anos de reflexões e experiências pessoais, conclui que o problema da reincidência do homem aprisionado é cultural. Somente quando entendi que estava impregnado pela cultura criminal é que consegui ultrapassá-la. Até então, todas as oportunidades que escavei até sangrarem os dedos, haviam dado no concreto duro das muralhas. Cheguei a frequentar uma universidade (PUC/SP) e cumprir pena no regime semi-aberto. E fracassei em ambas as chances, depois de muitos sacrifícios. Conclui então que talvez melhor fosse não houvesse conquistado tais oportunidades.

Concomitante a esses esforços, desenvolvi capacidade de auto-crítica, que, então, me massacrou impiedosamente. Comecei a me questionar se eu não era um psicopata, um psicótico, um sociopata, um criminoso contumaz, pessoa incapaz de conviver com os demais seres humanos. A auto-estima situou-se abaixo da poeira do chão. Havia algo estranho porque eu me sentia plenamente capaz de conviver numa boa com as pessoas. Gostava delas, sentia-me capaz de amá-las e sabia que podia ser útil para a sociedade. Sai a procurar. E foi lendo sobre antropologia cultural que comecei a puxar a linha do novelo.

Era óbvio: Anos, décadas sendo aculturado dentro de instituições para menores de idade delinquentes e depois prisões, haviam me impregnado daquela cultura. E cultura é algo que não morre, é preciso que seja ultrapassada, se não queremos que predomine. Por mais desejasse conviver, a cultura da qual era vítima, impedia. Os livros e as pessoas que me procuravam na prisão me salvaram. Pude oferecer uma contra partida à cultura prisional, confrontar e vencer. Estou há 12 anos aqui fora sem sequer haver passado na porta de uma delegacia. Não roubo uma bala no supermercado. Vivo em paz com as pessoas, disposto a colaborar e, se possível, ajudar e servir.

Ao final de minha pena, alfabetizei muitos companheiros em 6 ou 7 anos como professor. Quem ensina na prisão é mais que professor. É amigo, confidente, faz as vezes de psicólogo, às vezes até pai ou irmão. Pude, então, conhecer melhor os companheiros de sofrimento. Estudei, esforcei-me muito para fazer face às demandas que os alunos me apresentavam.

Quando sai da prisão, imaginei fazer a diferença com o conhecimento adquirido. Quis levar minha experiência pessoal, o que havia estudado e tudo o que pudera observar aos ex-companheiros. Procurei entidades, ONGs, OCIPs e Institutos que trabalham com presos na certeza de que meu conhecimento seria levado em

consideração. Mas não fui bem aceito. Consegui financiamentos e apoios para fazer Oficinas de Leitura e Escrita. Consegui promover o livro em alguns lugares e até em outros Estados. Estive até na Fundação Casa trabalhando com adolescentes. Mas jamais pude ir mais fundo e discutir meu conhecimento e experiência acerca da cultura criminal e sua ação nefasta nos estabelecimentos penais. Cheguei a falar disso em faculdades, empresas, institutos, escolas, mas ligeiramente, jamais como se fazia necessário.

Até que nos ano passado fui convidado pelo Instituto Ação pela Paz (IAP) para, junto com o psicólogo Maurício Cardenete, montar um projeto. Afinado comigo e com muito mais conhecimento teórico que eu, Maurício me deu a base que eu carecia. Também ele acreditava que o problema da reincidência criminal é cultural. Montamos um projeto de 5 módulos cada um com 4 aulas de 3 horas. Começamos a apresentá-lo semanalmente no Centro de Reintegração de Limeira, para 30 homens aprisionados. A intenção era de empoderar, ajudar a formara uma capacidade crítica e auto-crítica, trabalhar em cima de valores aplicados, confiança, escolhas, emoções, comunicação, consumismo, ansiedade, amor: seriam 37 temas ao todo.

A semana passada concluimos nosso projeto-piloto com as 20 aulas. Foram cerca de 5 meses de debates, reflexões, discussões, textos e conversas, entremeadas de dinâmicas, filmes curtos, desenhos, entrevistas e tudo o que tínhamos a oferecer em termos de experiência e diálogo. Vamos iniciar mais um grupo, dessa vez com 4 estagiárias em psicologia de uma Universidade da cidade, que vamos ensinar a aplicação do projeto. Nosso objetivo é passar para outras prisões e elas continuarão por ali com o projeto, até atingirem todos os presos.

Estou feliz: realizei meus sonhos; os ex-companheiros que participaram estão voando baixo e o projeto terá continuidade naquela e em outras prisões. Os indicadores avaliaram o aproveitamento e comprovaram o sucesso deste projeto. A cultura e a educação são a salvação, o que aprendi, estudei e observei fizeram a diferença.

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Luiz Mendes

20/05/2016.