O que vem a ser motivo da vida, pergunto-me. Seria ter bastante grana, não trabalhar, ter todo o tempo do mundo para se divertir? Vamos questionar isso. Tendo bastante grana, não trabalhando e tendo todo tempo do mundo para me divertir, motivaria minha existência? Pelo que conheço da vida, quanto mais dinheiro se tem, mais se corre atrás para obter mais. Nosso padrão de vida tende a aumentar ao infinito. Sempre existirão novos patamares. E ficar atrás de capital, com certeza, não vai motivar minha existência. A autorrealização humana não se resolve na esfera do aumento das possibilidades de consumo. Claro, ajuda.

Não trabalhar talvez fosse uma boa. Mas não trabalhar para quê? Porque não posso ficar sem fazer nada. Não fazer nada, decerto, não é o motivo de existir. Existimos para alguma coisa. Nada é nada. Divertir? Deve ser gostoso levar uma vida divertindo-se. Mas, provavelmente, cansaria, como tudo que é único se esgota.

O que nós queremos seria o motivo de nossa existência? Na verdade, não sabemos o que queremos. Nos atolamos no barro de nossas dúvidas. Afundamos cada vez mais, desperdiçando nossas energias na vã tentativa de sair. Às vezes a corrida rumo a lugar algum a que estamos mergulhados, mais me parece impulso suicida.

De qualquer maneira, que motivo de vida seria este, caso não casasse com o que nós queremos? Adquirir coisas, com certeza, já vimos que não é. Nada, não podemos. Divertir cansa. Quem sabe o motivo da vida não estaria na religião? Bem provável, não é mesmo? Voltar-me para Deus. Adorá-lo ou simplesmente amá-lo como a um Pai que nos provê. Que há um Deus, a maioria concorda. Não sei se daria o nome de Deus a esta força que me acompanha desde o começo de minha existência. Não tenho dúvidas de que há algo que me protege. Assim como protege a meus filhos e a cada uma das pessoas. A você que me lê, com certeza. Em nada sou melhor ou pior que você atualmente. Claro, é indiscutível que, no passado, fiz pior minha vida que a maioria de vocês. Mas chove sobre mim também, não é? E faz sol. Estou tendo a oportunidade de desincorporar minha paixão de viver como qualquer um de vocês. E quero existir gravemente, como sol sangrando. Vou sempre querer dar boas notícias de mim a cada um de vocês que me leem agora. Aguardem.

Mas, religião, do verbo latino religare, ou seja, religar o homem à sua origem, Deus, preenche o motivo de nossa existência? Sim, em uma boa parte das pessoas. Mas, nós estamos aqui para mais do que isso, me parece. Acreditar, aprofundar e participar, tudo bem. Só que, em havendo um criador, este nos fez com um ou até múltiplos objetivos. E este é o objeto desta procura: descobrir o motivo da existência de cada um de nós.

Seja qual for o motivo último de nossa existência, uma coisa fica absolutamente clara. O propósito das pessoas de carne e osso, em qualquer lugar do mundo, é alcançar a felicidade. E esse é o nosso maior desafio. Nosso coração surrado resiste como um astro aceso porque acreditamos ser possível.

É a nossa esperança de conquistar essa satisfação de viver que nos faz suportar cada um dos dias de nossas vidas. Embora a linha de aço que tange o horizonte, acreditamos em nosso sonho de felicidade, por mais remoto nos pareça. E é isso que nos mantém firmes e fortes na luta.

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Luiz Mendes

24/08/2015.

 

*Luiz Alberto Mendes é escritor e colunista da revista Trip e, agora, também do site da Revestrés