Às vezes fico a me perguntar o que há de errado com a droga da minha vida. Porque não sei mais o que fazer para compreender a mim, as pessoas e a vida. Julgar, de há muito descobri que não resolve e não é minha praia. Mas como conviver, viver todas essas coisas e não ter um juízo crítico para poder entender pelo menos o mínimo indispensável? E a desmotivação em tudo, porque tudo vira rotina? Rotina no que até a pouco era novidade. Talvez esteja assimilando depressa demais e então reste sempre essa coisa angustiante.

Nem pergunto mais o que sou. A pesquisa do que não sou ficou mais interessante. Pelo menos os elementos são novos e as possibilidades, me disseram, infinitas. Nada é simples, todavia aprendi, apenas o que se faz simples revoluciona. Às vezes sinto que me falta a dor. Na prisão, mergulhado na mais profunda dor encontrava uma estranha paz. Aquela que justifica e absolve. Um envolvimento com toda ternura e doçura que esteve sempre repleto meu coração.

Não sou covarde e muito menos herói. O problema é que tenho de viver com minha consciência. Fui obrigado a desisti do perfeccionismo, por mais esta proposta esteja entranhada em minha personalidade. Sempre me esforcei para que tudo saísse da melhor forma possível. Agora quero apenas estar o mais justo quanto possa. Passado morre longamente, como se escondesse; quase some. Futuro, já me disseram também; o caminho mais curto para chegar ao céu é atravessando o inferno. Acho que já atravessei (duvidas?) e não vi céu nenhum. Será que existem outros infernos piores que os prisionais? Se existem, tenho medo deles. O mais certo é pensar que futuro pode ser tudo, menos o que se afirma. Somente o gosto do agora existe, somente o gosto que tenho em viver cada instante, este gosto que só eu posso sentir, se esparrama pela minha boca e domina meus sentidos.

Fico pensando se é só isso. Passamos a maior parte de nossa existência como que perdidos, afoitos a um nunca chegar. Ao fim e ao cabo, já velhos, então passamos a entender o que havia de bom em cada um dos momentos vividos e como os desperdiçamos. Isso cansa. Parece que existe uma letalidade em

cada uma de nossas incoerências. Será que um homem é somente um homem e só pode ser um homem em que condição estiver? Mas e a sabedoria que me diz que sem o esforço de cada um de nós, a vida de nenhum de nós seria possível? Pessoas singulares e verdadeiramente grandes se sacrificaram, e se sacrificam todos os dias, para que tenhamos o pouco de satisfação em viver que ainda temos. Sei que isso soa ingênuo, até ridículo, mas acho que é assim porque gastamos nossos olhos naquilo que é atirado contra eles.

Acho que só resta lutar para manter viva a chama do que há de vivo, original e diverso dentro de nós. E, é claro, ir contornando a desastrosa paixão pelo poder que tanto nos tem obcecado. Acredito que as conseqüências de nossos atos nos levam a reconhecer que é nossa mediocridade e pequenez que ameaçam nossa capacidade de nos fazer felizes. Talvez reconhecer fraquezas, limites e mesquinharias seja o melhor dos exercícios porque, sem dúvida, não perceber estreitezas e tacanhez, é o pior deles.

O que há de errado com a droga de minha vida, acho é que nem sempre consigo entender e quando entendo não consigo que seja a tempo de colocar as melhores idéias em prática. Enquanto isso, as incertezas farfalham como espasmos da ventania e a vida se move em meio a vidas perdidas, estupidamente.

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Luiz Mendes

09/06/2016.