Um dia eu me toquei que a bateria do meu celular não tava prestando mais pra nada. Saia de casa cedo e antes do meio dia tava la, 10%. Tomada direto. Carrega de novo. Pausa pro almoço, eu querendo responder o whats, zapear pelos stories: bateria fraca de novo. Comprei outro iphone. Ai veio o questionamento: é a bateria desses aparelhos que não duram mais ou a gente que tá vivendo num nível hard de aceleração que nem as máquinas estão aguentando?

2018 eu vivi uns cinco anos em um. Foi dureza, eu tô cansada – e termino o ano olhando as fotos do povo na praia e pensando: ainda bem que eu me aquietei. De fevereiro pra cá eu não lembro de uma pausa. Todos os meus feriados, domingos e férias foram emendando trabalhos, grudada em e-mail, word e computador. Esqueci o que é escrever com tesão. Virou um fardo, uma obrigação. Prazos e provas, projetos e notas, boletos chegando – eu com aquela eterna sensação da vida passando e eu: o que é que eu tô conquistando?

Também não dá pra reclamar – este ano eu cheguei a postos e lugares que eu jamais poderia pensar. Foi o ano que eu mais peguei em microfone (ooopaaaa), mas pra quem era sempre a mais tímida da sala e tinha vergonha da própria voz, isso é sim uma grande conquista. “Eu descobri que não era tímida, mas sim silenciada”, lembro dessa fala da Monique Evelle e me identifico – aliás, esse foi o ano de conhecer gente massa, entrar pra uns bondes inimagináveis, expandir os limites, retomar laços que eu nem queria ter perdido e essa é a parte muito boa, talvez a melhor de 2018.

Acho que as coisas começaram a correr mais leve quando eu passei a me levar menos a sério – eu posso ser quem eu quiser, eu posso ser um monte de coisas. Nem tudo tem que ser tão cabeça, nem dicotômico, nem preto no branco – inclusive eu tenho fetiche nas zonas cinzentas. Ao mesmo tempo foi preciso me disciplinar – eu tenho noção da profissional que eu poderia ser em todos os aspectos se eu fosse um tantinho menos preguiçosa. É preciso me cobrar, é preciso entrar nos eixos – tatuei uma libélula pra todo dia olhar e não esquecer da importância de manter o equilíbrio. Talvez vem daí meu fascínio pelo não-extremo: a dificuldade de saber o meio termo.

Já na reta final desse ano crazy eu decido mudar de rumo – ou melhor, voltar pro foco do qual eu me desviei distraída – cuidado que sair de uma obsessão é facilmente entrar em outra. Eu tava ganhando um dinheiro que eu jamais sonhei em ganhar pra comprar coisas que jamais pensei precisar. Na mesma rapidez que entra, sai – e toda semana as oito horas do mesmo dia, tava eu lá, na terapia, um espaço autorizado pra ter essa pausa na rotina e chorar. Veja você o quão cruel é um sistema que te obriga a trabalhar para pagar uma sessão com a promessa de te curar dos problemas que o próprio trabalho te causa. Seja honesto com você. Seja transgressor: faça cocô no horário do expediente. Se rebele e não tenha medo de mostrar quem você é – se o que você for, for de verdade.

O meu planner sugeriu a difícil missão de eleger a foto mais feliz de 2018.

Aliás, verdade foi uma coisa tão atraente quanto incoerente nesse ano todo que passou. Eu busquei verdade na política, no trabalho, na pesquisa, nas pessoas e, na maioria das vezes estive cara a cara com um dilema que está no coração da filosofia. De quantas verdades precisamos saber? A quem interessa essa busca incessante pela verdade? Existe, aliás, apenas uma verdade?

Verdade e trabalho deram o tom do meu 2018. E eu adoro o trabalho, eu só me desespero um pouco quando eu paro de enxergar o propósito – a falta de verdade no trabalho. Pra que tanta correria? O que a gente tá ganhando? Afinal, não seriam extremamente relativas essas noções de ganhar ou perder? Quando eu consegui dar respostas convincentes ao meu pai – a pessoa que mais me testa emocionalmente nesse mundo – ou melhor, quando eu percebi que eu não precisava dar essas respostas a ninguém, eu fiquei aliviada e leve.

A minha liberdade incomoda. E ela está na minha escrita, no meu trabalho, na minha dor. Reparei que mais da metade das minhas tatuagens remetem a momentos tristes – a morte do meu avô, a perda da Pudim – e isso talvez aponte para um jeito muito exacerbado e externo que eu tenho de lidar com a dor. Pode ser condenável para alguns, mas pra mim é libertador. E só quem vive a sensação de se ressignificar sabe do que eu posso estar falando.

2018 a gente tretou pra caramba também – foi o ano das máscaras caírem, ano de xangô, não precisa nem ser muito bruxa pra saber disso. O ponteiro ainda tá correndo e até o último minuto vai ter sim gente quebrando a cara. Já tinha um tempo que eu ensaiava esse texto tentando absorver o que vivi e tudo que senti e amadureci – foi um ano de descobertas amorosas incríveis, inclusive sobre novas formas e novos tipos de amor, mais ligados ao efêmero e ao presente, mais conectado a forma apressada de viver as coisas – tipo a bateria do iphone – nada feito pra durar. E foi importante, ao seu modo, cada uma dessas vivências – nem que tenham sido pra deixar saudade ou pra mostrar que em teoria tudo pode funcionar – mas pode não ser adequado para mim.

Autoconhecimento seria o ano em uma palavra. E fico feliz que em tempos onde se pregou tanto o ódio, eu tenha insistido no amor. Eu ainda acho que estar junto é uma forma afrontosa de resistir. Me elogiaram porque eu fui uma lady na ceia de natal: eu não tretei com tiozão, eu ouvi bolsominion levantar a voz pra mim e respondi com meu silêncio. Embora eu tenha aprendido a importância de falar, soltar a voz, me posicionar, faz parte da inteligência estratégica saber sua hora de calar. Escolher as brigas que vale a pena ou não comprar. Às vezes você quer só ter razão, mas às vezes é melhor ter paz.

Por um consumo – inclusive de tretas – consciente, pela retomada do foco, pela busca por um propósito, pela certeza de que tudo que eu quiser vai dar pé: vambora partir rumo a 2019. Um ano novo cheinho de força, de coragem e de vida. E a vida, como resume Caetano, é esse doce mistério.

 

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