Engana-se quem pensa que um repórter deve ser, antes de mais nada, alguém que sabe o caminho a seguir. Obviamente preparar-se rende boa economia de tempo durante um percurso – esteja você conduzindo um carro, um navio, ou só um texto mesmo. De vez em quando, perder-se no mar de informações pode ser perigoso e totalmente útil.

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“Quando eu não tiver curiosidade pela vida, é melhor não viver mais”

Não é de hoje o meu preconceito com pautas. Tenho mesmo é um histórico de discriminação e cara feia para muitos assuntos. Na reunião de pauta (e na vida), talvez eu seja sempre aquela no canto, reclamando de tudo. Uma hora, talvez, eu melhore. Mas por enquanto eu vou aceitando e pegando cada ideia com goladas de resignação.

Foi assim que eu acabei indo pesquisar sobre o maior paisagista moderno do século XX, no mundo, o Burle Marx. De quem eu algum dia ouvi, levemente, falar. Fiz meu primeiro contato com alguém – consegui um número. Liguei, queria tudo pra ontem, ela iria viajar. Não sei se foi minha voz triste de um lado ou a presteza do outro, conseguiu me encaixar na agenda. Uma horinha, uma aula, um livro e uma repórter feliz.

Depois vieram outras – “olha eu tenho alguns minutos no fim da tarde antes de uma palestra – e antes deu pegar um voo”. Foi o suficiente. Corri, me perdi, ganhei outro livro. “Fulana também é especialista no assunto, ela pode se juntar a nós”, e a roda foi crescendo, o coração acelerando.

Mais um nome, um telefone, um email, uma sugestão. “Mas por que isso é tão importante?”, a pergunta que inverteu a lógica do eu-pergunto-você-responde.  Até agora, a mim parece mais sensato responder: porque, talvez, ninguém nunca tenha perguntado.

Volto a falar com a primeira fonte. “Consegui essa foto!” – mostro no Whatsapp. Era quase meia-noite e estávamos, nós duas, arrepiadas com uma imagem.

Consigo mais três telefones. “Minha mãe falava direto com ele!” – agora me sinto mais íntima, mais perto da história. O quebra-cabeça vai fechando, vai ficando incrível, vai ficando intenso.

Aqui estou no que chamo de lipoaspiração do texto – tira as gordurinhas, corta todo o excesso – e ainda me corrói a ideia de não ter o título perfeito. Não tem fórmula, não tem regra: apenas quando for o certo, você saberá. É sensitivo, quase como os jardins que ele fazia. Vejo mais um vídeo, leio mais um treco passando a vista e opa, “por que eu ia pulando essa linha?”, penso me recriminando. Ali está. Foi a Tarsila do Amaral que disse, mas tenho certeza de que ela não iria contrapor essa homenagem.

É a última hora do dia 4 de outubro, não por acaso, o dia do paisagista, quando finalmente boto o último ponto. Conclui o raciocínio, mais uma história que se fecha, um amor a menos – ou quem sabe a mais – nessa vida.

Realmente, Burle Marx, é preciso curiosidade pra viver.