Há um mês a Pudim chegou lá em casa e agora colecionamos arranhões pelo corpo todo – apesar de doloridos, interpreto como marquinhas de amor.

Ela era uma bolinha de pelo que miava choramingando acuada. Se escondia de qualquer movimento e barulho. Tinha, talvez, duas semanas, quando a pegamos. Não tomava o leite, recusou a caminha, ignorou a caixa de areia. Deu zero bola para o brinquedinho que trazia um falso peixe em uma corda e nos custou 10 reais no pet shop.

Elegeu, ela mesma, o espaço entre o sofá e a parede como seu esconderijo – só parou de dormir ali quando descobriu as maravilhas de um ar condicionado. Levou dois dias para que as mães de primeira viagem descobrissem que ela precisava de uma mamadeira. Mamava igual um bebê no colo. Foi ficando manhosa e comilona. Algum tempo depois, Pupu, para os íntimos, passou a comer ração de filhote, que amaciamos com água morna e carinho. Começou finalmente a brincar com a cordinha do tal peixe.

Depois nossa Pupu, sorrateiramente, seguiu a explorar os demais cômodos. Descobriu que o mundo ia além da sala. Meu quarto passou a ser um parque de diversões. Sobe e desce caixas, brinca com cadarços (é absolutamente louca por sapatos), se enrosca no edredom, fone de ouvido, carregador, entra e sai debaixo do criado-mudo e caminha entre os travesseiros. É minha companheira de seriados, embora deteste não ser o centro das atenções. É comum ela subir em cima do notebook, socar a tela do celular com a patinha, morder livros e fazer tudo o que puder para retaliar o inimigo – nunca está disposta a dividir minha atenção com ninguém. Ela roda, roda e escolhe o lugar mais improvável para deitar-se: entre minha visão e o livro que tenho nas mãos, indiferente ao fato de que está atrapalhando algo e fazendo aquela cara de blasé.

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     Tô nem aí pro teu netflix, humana.

É lindo quando acorda e caminha pela casa se espreguiçando, numa espécie de ginástica matinal felina. É a gata mais curiosa que eu conheço, fica a um triz de cair dentro da minha xícara de café todas as manhãs (um dia ela o derrubou no meu pijama novim). Passou a explorar o quarto da mamãe, com quem escolhe dormir agora quase sempre, persegue agarrando o pé, pendura-se na calça jeans, esconde-se atrás da porta para dar pequenos sustos com pulinhos. É a fase mais fofa e brincalhona. Ah, ela já curte o peixe. Na verdade, ela já o destruiu.

Fico olhando pra Pupu e pensando em quanto tempo perdi sem entender porque o mundo se rendeu aos gatos. Quanto tempo passei subestimando essas fofuras e repetindo argumentos vazios da turma contra-gatos, sabe-se deus por qual razão. Pudim é independente, amorosa e inteligente. Eu achava que a tínhamos salvado de morrer na rua, mas ela explica tudo com o olhar, aquelas duas bolotas azuis dizendo: “que sorte essa família teve quando a adotei”.