É preciso dizer o quanto essa entrevista do João Moreira Salles foi transformadora para mim. A Caravana Piauí, aliás, como um todo, passou por aqui deixando em mim aquela sensação que eu só sentia nos congressos – a vontade de que cada minuto, de tão intenso, fosse eterno. Mas nada vai permanecer no estado em que está.

Durante tanto tempo eu encarei a vida com uma visão determinista – o que é irônico se pensarmos que a única certeza que se tem diz respeito ao estado inacabado das coisas. Por que evitar a vida em todas as suas possibilidades, inconstâncias e incertezas se é ela uma experiência tão única e passageira? Tempo, tempo, tempo, tempo: és um dos deuses mais lindos.

Eu estava lá, ao lado do João, enquanto ele falava com serenidade e sabedoria sobre os instantes, os intensos e as paixões. O que, afinal, te sobra além das coisas casuais? “O intenso passa”, dizia ele. E é fácil encontrar sentido quando a vida tá a volume máximo. O duro, continuava, é inventar maneiras de ser feliz na vida cotidiana. “No Intenso Agora é sobre isso: sobre a alegria, a perda da alegria e o que se deve fazer para recuperá-la”.

Eu ouvia essas coisas de João com um leve sorrisinho e inquietude: estaria eu vivendo o meu intenso? Quando eu vou saber se o meu intenso ainda está por vir ou, quem sabe, já passou?

Só quem sabe o que é a perda inesperada da alegria pode entender o desespero que se passa para tentar reencontrá-la. Ressignificar. Revisar. Recontar – estive pensando sobre como falar é também uma forma de reviver, e mudar o modo de narrar (como um editor da própria vida) é crucial para alterar a importância que damos as coisas. Transformar o tema antes principal em mera nota explicativa ali no rodapé.

Eu não sei se o meu intenso é agora, nem o quanto de tempo ele pode durar – talvez passe como um furacão, talvez venha tão de leve que nem desperte, no momento, uma emoção. A diferença é só minha consciência de que uma hora, eu sei, ele vai acabar. E é um alento perceber, no fundo de nós, toda a graça existente em se reinventar.