Eryk Rocha não tá a fim de te explicar nada. Seu documentário, escolhido como o melhor na seleção oficial do Festival de Cannes em maio é um filme-homenagem ao movimento que discutiu um novo rumo para o cinema nacional nos anos 50.
![Fernanda Montenegro em cena do filme 'A Falecida', um dos destaques do documentário 'Cinema Novo'](https://revistarevestres.com.br/wp-content/uploads/2016/11/CinemaNovo_03-448x300.jpg)
Fernanda Montenegro em cena do filme ‘A Falecida’, um dos destaques do documentário ‘Cinema Novo’
Não é um filme para principiantes. Foge do didatismo e os depoimentos que relatam a produção da época, são, talvez, da própria época – não há distanciamento que permita uma reflexão histórica, mas há, sim, um olhar muito crítico. Glauber Rocha, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos (e às vezes, a esse grupo de juntava Vinícius de Moraes e, na França, até Edgar Morin) estão lá debatendo suas próprias produções sem nenhum romantismo.
Para mim o doc é uma espécie de bricolagem – sendo que não estamos falando de amadorismo, mas sim de alguém que de tão familiarizado com o assunto, se permitiu romper, inclusive, com o recorte temporal do Cinema Novo. É um filme para falar de outros filmes, e ele faz isso utilizando menos a linguagem documental e mais a montagem de recortes de cenas, trilhas e falas selecionadas em mais de 500 horas de material (foram nove meses de montagem e três da edição de som, em um projeto iniciado quase dez anos atrás, revelou o diretor).
Cinema Novo é um brinde aqueles que conseguiram enxergar o Brasil em seu contexto de país subdesenvolvido– sem disfarce, sem artifícios. Isso está na pele dos retirantes, na luz natural, na discussão das questões ligadas a nossa realidade. “O Cinema Novo procurou tratar dos problemas do povo, mas não alcançou o sucesso popular”, diz Cacá Diegues, constatando que o movimento foi vítima de seu próprio alvo. Ele observa a sua época, ou quem sabe, a nossa.