(ou minimanual de autoajuda para jornalistas culturais)

Por Samária Andrade

– Faça você algo ou não, o tempo passa. Faça.

– O que você fizer, que julgar importante, interessante, relevante, vai precisar de outras pessoas que, como você, julgem aquilo importante, interessante, relevante; ainda que, para a maioria, pouco importe. Encontre as pessoas que se importem. E entenda: elas vão pensar diferente e agir de modo diverso, mas terão algum link que vai fazê-las vibrar quase parecido.

– Muita gente vai esquecer rapidamente ou vai ignorar, ainda em curso, o que você faz cheio de esforço. Não é hora para pretensões. Continue fazendo.

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– A história é cíclica. Insista.

– O jornalismo cultural às vezes sofre transtornos mentais: diz o que não está havendo, não vê o que acontece, delira, perde o sentido de realidade. Mantenha o espírito crítico e exercite a autocrítica.

– A política às vezes vem e páh: arrasta a cultura. No final, o que sobra e ergue a cabeça é a cultura. Persista.

– O cinema novo, como o jornalismo cultural, não precisava de herois, precisava só de gente interessada em contar histórias. Histórias que pudessem ser contadas até com as mesmas palavras, mas com entalhes e encaixes novos. Desenferruje o olhar. Afaste a preguiça da abordagem.

– Duvidar do que se faz não é só parte do caminho, eu diria que é nossa obrigação, se essa palavra não me soasse tão chata. Duvide. Mas não deixe que o duvidar substitua a esperança. Sem esperança você não ficará motivado a fazer quase nada. E quase tudo o que você vai fazer depende de esforço.

– Fazer algo em que se acredita continua a ser das forças mais potentes, contagiosas e permanentes. Continue a acreditar.

*Documentário 2016, direção de Eryk Rocha