Por Samária Andrade

As mais sólidas bases (isso ainda existe?) dos estudos teóricos de Comunicação vêm da área de Sociologia. Sempre foi assim. E, algumas vezes, a gente ficou até com ciuminho dos sociólogos: essa gente que parece entender mais do nosso campo que nós mesmos, ora, ora.

Mas trago verdades (impressões?): ou a gente estuda o campo a sério ou já foi. Talvez nós saibamos operacionalizar mais os recursos (eles talvez nem estejam interessados nisso – a maioria, pelo menos), mas eles estão afiadíssimos, “pensando” a “nossa” área (se é que existe o “nossa”). Mas o interesse aqui não é discutir inter ou multidisciplinaridade. É, para além disso, partilhar com vocês alguns pontos, com o sério risco de cometer equívocos. Mas daí a gente pensa juntos, né?

– Até onde nós vamos manter os ritos, quando o país e as instituições se desmancham na nossa cara? Na noite de abertura do Congresso de Sociologia, o cerimonial convidou a todos para ficarem de pé e ouvirem o hino nacional, enquanto os telões exibiam imagens de um país que vai pra frente. Que anacronismo é esse?! Todos de pé, ninguém cantava. Minto: alguns até botaram mão no peito (eu é que preferia não ter visto). A mesa, de sociólogos renomados, visivelmente constrangida, salvou a todos do vexame quando a professora Lourdes Bandeira, chefe do departamento de Sociologia da UnB, lembrou que a Sociologia deve assumir posições e não pode ignorar a conjuntura nacional. Wellington Almeida, diretor-presidente da FAPDF, citou Florestan Fernandes “neste momento em que a força das ideias está dando lugar às ideias da força”. Foram aplaudidos, embora merecessem ser mais aplaudidos.

– Sabe aquele povo que diz que acabaram direita e esquerda (geralmente gente de direita)? Pois é, eles não foram ao Congresso de Sociologia. Lá eles estão falando adoidado em direita e esquerda e suas diferenças complexificadas pelos contextos: as direitas, as esquerdas.

– O neoliberalismo e os conservadorismos estão tirando o sono desse povo. E acho bom prestar atenção a isso, mesmo que você não estude Economia Política da Comunicação.

– Sabe Junho de 2013? Não é simples de entender como você, que já definiu tudo, pensa que é. Há grupos de pesquisadores debruçados sobre esse movimento e suas contradições, inclusive sobre o papel da comunicação nisso tudo.

– Sabe aqueles programas de TV ou meios de comunicação que você descreveu, anotou, fez tabelas, mediu, metrificou e acha que arrasou na pesquisa? Eles vão lhe perguntar: é só isso que você tem a dizer?

– Ou nós, comunicadores, vamos ao Congresso de Sociologia ou não vamos entender mais nada. Aliás, eram poucos os comunicadores por lá. Mas tinha gente do direito, arquitetura, administração, ciências políticas, economia…

– Pergunto-me se parte dos estudos dos comunicadores está aprisionando os veículos de comunicação e/ou os movimentos sociais somente como “objetos” de estudo (essa busca-armadilha da ciência pelo objeto) centrados em si mesmos? Assim escapamos dos cruzamentos que, muitas vezes, não temos capacidade de compreender e adotamos uma visão normativa, limitada e limitante.

– Parte dos sociólogos fala como se estivesse lendo o livro “a representação do eu… blá blá blá”; mas eles são legais, recebem bem e são irônicos: criaram a expressão “pênis acadêmico” para se referir àqueles colegas que se orgulham do tamanho do Lattes e o comparam aos de outros colegas. Aposto que todo mundo conhece alguém assim na academia, né?

– Por fim: esqueça aqueles congressos onde o pessoal não lê o seu artigo. Eles vão ler e vão fazer boas críticas e trazer contribuições e sugerir leituras e fazer perguntas as vezes difíceis. Se isso acontecer, faça como eles: responda alguma coisa que termine com “eu não sei se lhe respondi, mas a gente pode continuar essa conversa mais tarde”.