(Por Samária Andrade. Fotos: Maurício Pokemon)

Há cerca de dois meses finalmente aderimos à ideia que já nos rondava: criamos um site para Revestrés. A revista impressa tem publicação bimestral e, achamos, já temos certo domínio para este formato. O site se fez necessário por muitos motivos: possibilidade de chegar a espaços onde o produto físico se encontra limitado, conseguir maior visibilidade, ampliar os contatos, ter um local onde os muitos textos, matérias, entrevistas, reportagens já produzidos pudessem encontrar nova morada, novos leitores, nova vida.

Tínhamos e temos muitas dúvidas ainda: com que frequência atualizar o site? O que disponibilizar? O site atrairia novos leitores ou afastaria do impresso os já assinantes?

Seguimos adiante: criamos novas seções, abrimos espaço para blogs com atualização frequente e ficamos observando como se comporta esse bicho revista-bimestral-impressa na internet. Ficamos confortados em descobrir que não somos os únicos com mais dúvidas que certezas e nem somos os únicos que estão fazendo testes – não com o leitor, mas com a nossa capacidade de estabelecer comunicação com esse leitor.

Sim, sabemos que existe toda uma prática onde, teoricamente, sabe-se de antemão o que pode estimular as visitas: o inusitado, o apelo à polêmica, elaborar listas (seja do que for), tentar algo interativo. Pois bem: como conciliar isso e um conteúdo e linha editorial já existentes?

Impossível não é. Algumas estratégias funcionam, até nos surpreendendo. Outras vezes deduções lógicas se mostram absurdas e até nos divertimos com isso. Algumas dúvidas se dissipam, outras se renovam e se recriam com novas perguntas.

Entre estas últimas, temos enfrentado uma questão tão humana que é maior do que o jornalismo e seus suportes: o tempo.

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Haverá, nesses tempos do jornalismo da internet, tempo para o jornalismo apurar? Para se depurar? Tempo para se encontrar com a fonte? Para ouvir de sua boca, saber de seus olhos, perceber seus humores? Haverá, para o leitor, tempo para clicar além do título e ler a matéria? Quanto tempo nossa matéria permanece interessante? Quanto ela dura? Quando vai exigir novas e mais impactantes versões? Quantas visitas perdemos por não termos atualizado a tempo?

A notícia no tempo da velocidade está disposta a pôr o jornalismo em xeque. A notícia caçadora de cliques escorrega em meio a definições, não quer se enquadrar, tenta escapar à crítica, debocha do conceito de “notícia” e prefere ser “informação”. A notícia que deseja “monetizar a internet” se justifica quando é muito acessada. A notícia da instantaneidade prefere o “jornalista sentado” de que fala Fábio Pereira: aquele que está no e-mail e nas redes sociais, esperando relato da assessoria, “colando” dos outros portais, recebendo a resposta por mensagem eletrônica.

Todos essas tecnologias facilitam a vida do jornalista e, antes da inutilidade de negá-las, deve-se tentar compreendê-las, avaliá-las, saber onde, quando e como aproveitá-las. As tecnologias aumentaram a intensidade das informações transmitidas. E esse tem sido um processo contraditório, conflituoso e dinâmico para o jornalismo, que se beneficia, se prejudica, se reinventa diante do deus Chronos atualizado da internet, mais violento que o da Mitologia Grega – que engoliu os filhos temendo perder poder para eles. Para o Chronos da internet, notícia não é mais nem informação, é velocidade.

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Em meio a alguns descaminhos, há sites e portais maravilhosos que estão sabendo/aprendendo a dominar esse espaço, abrindo uma trincheira ainda difícil. Estamos de olho e queremos aprender. Por enquanto somos calouros nessa escola. Podemos até – acreditamos – nos perdoar por não termos atingido todos os cliques que pensamos, nem termos a atualização tão veloz: ora gente, não somos portal, somos site (alguém aí ainda faz site? Será que isso é anacrônico?). O fato é que notícia é obsessão de portal, não de site. E jornalismo é lugar de mudança e reinvenção. Quem sabe amanhã mudamos todas essas dúvidas e trocamos por novas.

Por enquanto gostamos de pensar que, como Zeus, engabelamos Chronos quando nos dedicamos a periodicidade bimestral, e temos tempo de encontrar a fonte, e mudar de fonte, e reescrever a matéria, que para nós não é notícia nem velocidade. É uma outra coisa nessa reinvenção do jornalismo. E pensamos ainda que nesses tempos líquidos, complexos, não existe apenas um deus Chronos, mas vários, com suas múltiplas possibilidade de tempo.

Somos também solidários a nossos amigos jornalistas que estão no jornalismo factual e nos portais e vivem, como definiu Schlesinger, a tensão entre os papeis de vítima e controlador do tempo: vítimas por estarem submetidos aos condicionantes da produção; controladores por ver os condicionantes como desafios que podem ser superados por uma habilidade que só os jornalistas do dia a dia têm na difícil busca de, correndo contra o tempo, aliar “novidade” e “importância”.

Enquanto escrevo esse texto, enquanto você lê esse texto, a tecnologia já pode ter andando algumas casas no seu projeto de institucionalização do efêmero. Chronos está de olho na periodicidade do jornalismo, que já foi uma conquista, e agora é superada.

Deixa eu concluir. Pois basta um F5 pra saber que esse blog foi ou não atualizado. A tempo.