Por Samária Andrade

Com a palavra escreve-se a matéria, a poesia, a pesquisa, o romance, o desabafo. A palavra informa – dizem os que esperam pouco da palavra. Ela também fere, envenena. Ela também salva. Ela está pesada, carregada de outras palavras. Ela está vazia, oca de sentidos. Ela está em todo lugar. “Há demasiado palavrório e não se dá valor ao que se abusa” – disse Frei Betto.

A arrogância de quem escreve é pensar que escolhe as palavras. Algumas se convocam. Outras, como gente, quando juntas, se deformam e se tornam dementes. Ou ganham potência. Outras ainda dizem o interdito e vão significar mesmo o contrário da aparente concretude do escrito. A palavra não se submete.

Mas como continua sendo difícil escrever se o mundo está cheio de palavras?

A ausência não é de palavras, meus caros. O abismo se apresenta ao se tentar juntar uma e outra. O deserto está nos silêncios. Aquela fenda de onde você só sai agarrado a outra palavra.