Por André Gonçalves
Então chegamos, teoricamente, à última edição de 2016. Sim, teoricamente porque, aparentemente, 2016 é um ano que não vai terminar nunca.
Um ano de perdas, de receios, de sustos, de incômodos, de incertezas. Perdemos algumas esperanças, ilusões e, entre tantas ausências que vamos sentindo a cada dia, a ausência de Ferreira Gullar, um de nossos grandiosíssimos poetas, que tivemos o privilégio de ter em nossas páginas, em uma das entrevistas mais marcantes que fizemos. Uma de nossas lembranças é a cadeira de balanço onde o poeta lia seus jornais, livros e revistas, à luz do sol do Rio de Janeiro. É essa cadeira que está aí embaixo. Vazia. Como uma homenagem nossa à sua tão presente falta. Vai, Gullar. Mas, olha, você está aqui. Os poetas sempre estão por toda parte.
Como a poesia, apesar de tudo, nunca nos deixa sós, decidimos fechar – ou tentar fazê-lo – esse ano tão complexo ouvindo, claro, um poeta. Conversamos e trouxemos para nossas páginas um poeta que todo mundo no Brasil conhece, mesmo que não saiba. Climério Ferreira, poeta, letrista, compositor, parceiro de Dominguinhos, o Cli dos Cli-Cle-Clô, um piauiense que vive há anos em Brasília, mas para quem o mundo acontece mesmo é ali, no interior de sua terra. Climério Ferreira mostra que a vida pode ser um tanto delicada e simples. E bonita.
Nesse ano onde tanto se fala de crise em tudo que há, fomos saber um pouco sobre o cenário da dança e como bailarinos, coreógrafos, companhias, Brasil afora, estão convivendo e sobrevivendo em um cenário que é de desmonte: com verbas e apoios sumindo a cada dia, a dança resiste e enfrenta as dificuldades. A reportagem toca em coisas sensíveis e vale a leitura.
De Paris, chega o sucesso de Flávia Coelho. Saindo do Maranhão para conquistar a Europa, a música de Flávia Cleva a batida do reaggae para a moçada francesa, misturando sons, ritmos e querendo mais do que ser artista: quer ser 26 personalidades diferentes, uma para cada estado brasileiro. No ensaio, os autorretratos de Jaqueline Hoofendy, que são pequenos universos onde nos misturamos à artista e ficamos em dúvida se quem está ali é ela ou somos nós.
E Revestrés tem ainda, nessa edição #28, o poeta, compositor, filósofo e intelectual Antonio Cicero; a arte de W.G. mudando a paisagem da Vila Jeru, em Teresina; o Doutor Tatá, de Amarante, que vive com e pela poesia de Da Costa e Silva. E ainda a crônica de Rogério Newton, artigos, a gastronomia com uma galinha de encher os olhos e a boca, dicas de livros e música e muito mais.
Se é que 2016, esse ano que nunca perdoaremos, vai chegar ao fim, que seja com nós nos misturando a essa gente que produz e acredita tanto no que faz que nos ajuda a seguir em frente, sempre.
E, se 2017 chega com alguma certeza, será a de que continuaremos assim: acreditando na poesia, na arte, na literatura, na cultura, na vida. Com o que dela vier. Um tanto de Revestrés.