“Não se afobe, não,
Que nada é pra já”
Chico Buarque canta esse trechinho que diz tanto pra mim. Tem dito mais ainda ultimamente. Tenho tentado exercitar a paciência, a flexibilidade, a compreensão…Para escrever aqui, revi meu blog antigo e me vi assustada com as coisas que eu dizia. Irredutível, condicionada às certezas inabaláveis, inflexível. Assustador, com certeza! Morro de medo de rever coisas que escrevo. Se existe um momento que adio a todo custo é olhar pra mim mesma no passado. Ai, que vergonha daquele serzinho toda cheia de si anos, meses, dias atrás. Sempre que releio, rasgo tudo! Insuportável relembrar que tive a ousadia de escrever o que estava pensando e sentindo.
Se eu me arrepender de algo escrito aqui e você der falta, não ligue. Pode ser um súbito momento de profundo desgosto. Para evitar essa frustração de lidar com o que escrevo, resolvi fazer esquemas. No bloquinho de anotações, esquematizei sentimentos, sensações e insatisfações numa tentativa de analisar matematicamente aquele pandemônio interno. Nesse experimento, teve direito a tudo: data, setinhas sinalizadoras de positivo e negativo, legendas e post its.
De vez em quando, utilizo esse recurso. Quando canso de investigar, explorar e esmiuçar cada grão dessa íntima desordem e desisto de tentar etiquetar qualquer eco que venha de mim, gosto de acreditar que existe amor.
“O amor não tem pressa,
Ele pode esperar em silêncio”
Continua Chico, nessa música tão singela, falando de amor. Acho que é esse que fica guardadinho na gente esperando coisas para serem amadas: pessoas, caminhos, memórias. Uma calma carinhosa, que se apodera de você, disposta a esperar o tempo que for preciso para ter algo que se queira bem.
Nesses carinhos que a gente encontra, outro dia encontrei uma coisa guardada que nunca tinha aberto antes. Desde os sete anos de idade, jogo tudo que julgo importante dentro uma caixa. Sem dúvida, uma metáfora de quem escolhe, constantemente, guardar e jogar fora. Não poderia se esperar outra coisa de quem esquematiza as angústias internas e coloca post its nelas. De qualquer forma, bilhetes de amigos de infância trocados na escola, cartas de amor adolescentes e todo tipo de lembranças personificadas em objetos foram guardadas ali e revividos depois de 15 anos. Acho que era o amor daquela tarde esperando para ser amado.
Isso porque aqui, pode ser que felizmente, quando existe amor, existe muito amor, amor demais. Eu gosto de me gabar por aí que sou de escorpião com ascendente em escorpião. Relevando toda a intensidade que é ser assim, entre as coisas que eu mais gosto está a intuição apurada. Aquele não-sei-quê que te aponta o que fazer e o que deixar de fazer na vida. Um palpite, uma inspiração, um pressentimento que te guia e te impede. Sobrenatural! Quando estiver de bobeira por aí, pode me chamar pra um papo raso sobre astrologia. Adianto que não rejeito sorvete em quase nenhuma circunstância e tenho grande oscilação de humor.
Sigo cumprindo as regras que vêm de dentro – pura intuição – e, guardando meu medo de ficar, na espreita de acontecer algo novo digno de amor. Acho que esse espaço vai ser assim: todo amor, muito amor, amor demais.
Fica, vai ter post!