Os aplausos de hoje no futebol são todos para Lionel Messi, o craque argentino que levou da Fifa, pela quinta vez consecutiva, o título de melhor jogador do mundo – entre os anos de 2009 e 2012 e, agora, em 2015. Nada mais justo e merecido. Ele realmente é um gênio no trato com a bola e na hora de marcar gols, cada um mais espetacular que o outro. Cristiano Ronaldo, craque português, tem merecido aplausos também pelo mundo afora, tanto pelo talento quanto pela garra em campo, já tendo sido escolhido três vezes (2008, 2013 e 2014). Sem Falar ainda, é claro, do enorme sucesso que faz junto ao público feminino por sua beleza física. Entre os brasileiros, o nome que desponta no momento, embora ainda distante dos outros dois, é o de Neymar, que ficou em terceiro lugar na última premiação. Mas não tardará muito, de acordo com os entendidos, para levantar a Bola de Ouro, sobretudo, se focar mais na carreira e deixar as baladas de lado. Talento ele tem de sobra e joga, o que é melhor, num time excepcional, o Barcelona.

 

Mas quero saudar aqui, sem desmerecer ninguém, um botafoguense extraordinário, craque dos melhores e daqueles apaixonados pelo time: Heleno de Freitas, popularmente conhecido pela alcunha de Gilda, apelido que ganhou dos amigos e de torcedores rivais em função do filme estrelado por Rita Hayworth, atriz norte-americana tão bela quanto encrencada. Dono de uma postura elegante dentro e fora de campo, o jogador mineiro foi o maior ídolo alvinegro antes de Garrincha, mesmo sem ter nunca sido campeão pelo clube. Não era para menos, de um total de 235 partidas pelo Botafogo, ele cravou simplesmente 209 gols, tornando-se o quarto maior artilheiro da agremiação. No escrete da seleção brasileira, os números impressionam também: marcou 19 gols em 18 partidas. Em 1945, consagrou-se artilheiro da atual Copa América, emplacando 6 gols. 

Não fosse a vida desregrada que levou, envolta de bebedeiras e noitadas, Heleno de Freitas teria chegado mais longe, quem sabe até ao título mundial de 1950, quando a Copa foi disputada no Brasil. Além disso, era um jogador de temperamento explosivo, problemático mesmo, que brigava com Deus e o mundo, do adversário ao colega do próprio time. Nem os técnicos e os diretores dos clubes escapavam dessa incontrolável índole. O vício de cigarro e a pouca importância que dava aos treinos pioravam ainda mais a situação. Mas de todos os infortúnios vividos por ele, as mulheres foram as que o levaram ao fim da glamourosa carreira, marcando-o com belas e tristes histórias de amor, bem como a cicatriz terrível da sífilis. Achando pouco o tormento, Heleno adquire o hábito de abrir o frasco e cheira lança-perfume e éter com sofreguidão. O somatório de tudo, infelizmente, resultou em loucura, solidão e abandono do nosso craque. Heleno

Por que você está falando, alguém deve indagar, num craque que brilhou na longínqua década de 40? Simplesmente por ter visto há poucos dias o filme lançado em sua homenagem, com direção de José Henrique Fonseca e estrelado pelo talentosíssimo Rodrigo Santoro, que causou em mim uma forte impressão. De Heleno Freitas, o craque-galã e boêmio do futebol, já ouvira inúmeras histórias, mas não com a profundidade mostrada na película. A desesperada paixão por Lívia (Ilma, na vida real), por exemplo, e a frustrante experiência no Boca Juniors, time argentino. Para quem despreza o cinema nacional, taí uma ótima sugestão neste início de ano. Heleno é um filme que surpreende e agrada bastante, com qualidade técnica e um grande elenco. Os destaques ficam por conta de Rodrigo Santoro, no brilhante papel do centroavante Botafoguense, e Alline Moraes, que encarna a deslumbrante e sensual Lívia. Ao Heleno de Freitas, os aplausos dos que apreciam futebol com arte e coração nos pés.