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Thiago E

Num momento de crise como este, nada melhor que falar de poesia. Não para resolvê-la, mas, caso possível, exorcizá-la para longe da gente. Ao menos, o que já é lucro, por alguns poucos segundos. Tempo suficiente para o leitor passar os olhos, fatigados ou não, nestas mal traçadas linhas. Se não tem utilidade prática na vida, alguém deve indagar, que dirá resolver a grave situação do país. Infelizmente, ele está repleto de razão e não tenho, por mais que queira, argumentos para contradizê-lo. Exceto que a poesia, como diria William Soares, pode até não resolver os problemas cotidianos, mas, sem dúvida, revolve (no sentido de mexer) nossas inquietudes existenciais. Sacudidos no comodismo estéril, quem sabe nos movimentemos de uma maneira ou outra a partir de agora – quer atraídos pela chama estética ou impulsionados pela justiça social. Diante de uma boa poesia, só não cabe a indiferença dos mortos e a apatia dos céticos. Para tanto, basta dar uma espiada na geração dos novos poetas que estão surgindo na literatura piauiense.

Comecemos pelo intrépido Thiago E, artista multifacetado que transita, com a mesma desenvoltura, por distintas veredas culturais, desde a música até a artes plásticas, todas marcadas pelo talento e a irreverência do poeta de vanguarda. Embora seu nome continue ligado à Validuaté, banda musical das mais queridas do Estado, ele vem pouco a pouco firmando seu nome também na escrita poética. Seu livro de estreia, lançado em 2013, Cabeça de sol em cima do trem, prefaciado por ninguém menos que Jorge Mautner, é de uma beleza de doer os olhos, reunindo textos em verso e prosa muito instigantes. Amor é um bom exemplo disso, ao defini-lo de forma não convencional: “amor é um lugar, um vão, um trecho (chão sólido que ampara algum desejo) terreno aqui criado – extenso e dentro: o amor é espaço, não um sentimento; é um solo, lar, o amor é um lugar – tá vendo que em seu centro há de ficar tudo aquilo sentido no querer: vontade, dor, prazer, não sei o quê, palpitação, secura, um outro nome pra esta substância que consome…”

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Nathan Sousa

Outro que desponta como uma das vozes mais representativas dessa nova geração é Nathan Sousa que vem conquistando, a cada livro publicado, um número maior de fãs e de leitores de poesia. Como também de prêmios literários importantíssimos (27 ao todo, por enquanto), a exemplo do José de Alencar 2015. Sem falar ainda de ter sido finalista do Jabuti, com Um esboço de nudez, posição cobiçada por todo poeta brasileiro. Bom é ver seu amadurecimento ao longo desses anos, dos metapoemas no início da carreira à elevação das coisas comuns ao status de arte literária. Os versos De meu corpo sintetizam, de algum modo, essa transição: “De meu corpo/ eu bem poderia dizê-lo/ vácuo/ ou frágil recipiente/ de luas e auroras.// Poderia dizê-lo/ calendário de ossos/ desbotado na carne// ou mesmo/ herança de verões/ guardada na raiz/ dos poros.// De meu corpo/ eu bem poderia dizê-lo/ pedra/ ou qualquer coisa/ de bem ou de mal.//De meu corpo/ eu bem poderia dizê-lo/ corpo/ até dizê-lo/ afinal.”

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Demetrios Galvão

Quem não poderia faltar nessa despretensiosa lista é Demetrios Galvão, historiador e professor universitário que tem dedicado seu tempo, quase integral, a divulgar poesia da melhor qualidade, tanto a sua quanto a de inúmeros autores. Nesse sentido, não mede esforços em utilizar variadas plataformas, desde o livro até os saraus poéticos, incluindo ainda blog e fanzines. Diferentemente de outros, ele já nasceu feito por escolha da própria poesia, que o convocou, relembrando Torquato, a desafinar o coro dos contentes, sobretudo, desta nossa triste província. Para quem duvida, eis aqui Poema vivo: “tenho um poema vivo/ que me tira o sono/ e me faz demasiado humano// tenho um poema vivo/ que me invade pela manhã/ e me desconcerta o dia inteiro// tenho um poema vivo/ que pulsa um coração felino/ e jorra um olhar luminoso// tenho um poema vivo/ que é mais intenso que a língua/ e mais sonoro que as palavras redondas// tenho um poema vivo/ que me alfabetiza/ e me faz esticar o imaginário// tenho um poema vivo/ que carrego nos braços/ e vibra intensamente na estrutura vertebral.”