Vez por outra, alguém me indaga se não sou candidato nestas eleições. Mesmo sendo uma atividade das mais dignas, sobretudo, quando exercida com ética, respondo categoricamente que não. Estou bastante satisfeito com a minha nobre condição de professor. Sem falar de aprendiz de quase tudo. Mania absurda essa das pessoas acharem que, para ser feliz e realizado, temos de abraçar obrigatoriamente a carreira política. Costumo agradecer a lembrança, bem como a manifestação de voto, mas digo ter outras utopias mais interessantes. Talvez os amigos queiram apenas, com tal gesto, demonstrar o desejo de ver cara nova em nosso legislativo municipal. Mal sabem eles que, já tendo vivido essa experiência na década de 80, candidatando-me a vereador de Teresina pelo PT, não gostaria de repeti-la novamente. Dentre outros, por dois simples motivos: liseira para encarar as campanhas eleitoras milionárias de hoje e, acima de tudo, o medo de perder o restante de privacidade que ainda me resta.
Uma lembrança que guardo nítida daquele pleito é a da pobreza franciscana com que encarei os eleitores: um megafone, um tamborete de madeira e uns santinhos contendo algumas propostas. Sem grana sequer para alugar um comitê a fim de recebê-los, a estratégia foi abordá-los diretamente onde estivessem. As portas das escolas e universidades eram locais perfeitos para soltar o verbo e plantar esperanças. Sem falar também das paradas de ônibus e dos mercados públicos da periferia, plateias sempre atentas ao que o candidato tem a dizer.
Verdadeira prova de fogo para quem pretende representá-los no parlamento, encarando-os de frente e ouvindo as suas reivindicações. Triste do candidato que não passar, nesse corpo a corpo, sinceridade e compromisso, recebendo em troca uma constrangedora indiferença e, às vezes, didáticas vaias e palavrões exemplares. Não ter ficado com débito, tampouco comprado voto de ninguém, deixou em mim uma sensação indescritível de leveza e alegria.
Outro fato que marcou a referida campanha, ainda hoje fresca na memória, aconteceu na entrada dos alunos do Helvídio Nunes, escola pública localizada na zona Norte de Teresina, mais precisamente no bairro Marquês. Acabara eu de fazer o empolgado discurso, quando uma senhora humilde se aproximou de mim e, após um breve relato de sua penosa situação, pediu uma casa para morar decentemente com o marido e os cinco filhos. Ao falar da impossibilidade de atendê-la, tanto por ser um simples professor quanto morar em casa alugada, ela sapecou um conselho dos mais pedagógicos: “gente lascada, seu moço, não deveria jamais se candidatar”. E sem interesse em ouvir meus argumentos, virou as costas e saiu atrás da sonhada residência própria. Bendita e sábia senhora!
Toda essa conversa vem à tona não só por causa daquela “convocação” inicial, mas também por ter passado uma situação vexatória em hospital de Teresina. O constrangimento se deu quando levei um jovem que passava mal na rua para o devido atendimento médico. Um despretensioso gesto de solidariedade ao próximo. Ao responder que não era parente nem o conhecia pessoalmente, ouvi de uma enfermeira a perversa insinuação de que essa “alma bondosa está querendo votos”. Desde esse episódio, tomo o maior cuidado em não deixar transparecer nenhum propósito em seguir a carreira política. Faço questão de expressar que estou feliz assim, atuando em atividades educacionais e culturais. Que existem infinitas maneiras de se contribuir para o engrandecimento de nossa capital, cabendo a cada um encontrar a sua, contanto que exercida com seriedade, ética e afeto no coração.