Foi com esse bordão acima, repetido desde 2006 no Domingo Espetacular, programa dominical da Record TV, que Paulo Henrique Amorim despontou no cenário nacional, tornando-se um dos apresentadores mais conhecidos da televisão brasileira. A identificação era tamanha que, geralmente, as pessoas o cumprimentavam repetindo sua marca registrada. E melhor, com a mesma entonação inconfundível. A partir daí a empatia, com boas gargalhadas, brotava espontânea entre os interlocutores. Desde a madrugada da última quarta-feira (10), infelizmente, as coisas não amanheceram nada bem para seus familiares, amigos e admiradores. Fomos todos surpreendidos com a triste notícia da partida, após sofrer infarto fulminante, do grande jornalista carioca que dedicou a vida a cobrir fatos marcantes da história contemporânea, dentro e fora do Brasil.
Em novembro de 2015, tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. Ao vir lançar O quarto poder – Uma outra história, no Cine Teatro da Assembleia, fui convidado para dirigir os trabalhos, incumbência que aceitei com o maior prazer. Diante de um auditório lotado, PHA discorreu sobre os bastidores da grande imprensa, batizada ironicamente por ele de PIG – Partido da Imprensa Golpista –, sob um olhar crítico e demolidor, retrospectiva de quem conhecia a fundo esse fantasma que manipula, em parceria com as elites econômicas e políticas, o imaginário coletivo de nosso povo. Não tendo absolutamente nada, sobretudo a Globo, de imparcial nesse tabuleiro sujo do poder. Concluída a palestra e dados os autógrafos de praxe, que foram inúmeros, rumamos para um restaurante a fim de saborear um prato típico da culinária local e, claro, trocar ideias sobre a conjuntura da época. Da conversa, ficaram seu humor refinado, inteligência fora do comum e uma risada maravilhosa.
A partir daí passei a acompanhá-lo por meio das redes sociais, especialmente do Conversa Afiada, blog de notícias que mantinha no Youtube com o objetivo de fazer um contraponto à imprensa comercial, desafiando o coro dos rendistas contentes, dos que teimam em algarismar os amanhãs. Entre outras qualidades, despontavam nele o amor pelo Brasil, a defesa intransigente da democracia e o combate diário à ideologia fascista. Lutas que o levaram a ser perseguido, processado e demitido de vários órgãos de imprensa – seu afastamento do Domingo Espetacular, por exemplo, para ficarmos no último e mais recente caso. Dizia, magoado, PHA: “Tantas são as ressalvas previstas na própria constituição que os poderosos supostamente ofendidos acabam por prevalecer na justiça brasileira. E assim, pelo bolso e pelo constrangimento político e moral, funciona de fato no Brasil uma censura à liberdade de expressão, uma censura à palavra, uma censura ao pensamento.”
Andando na Praça Benedito Calixto em 2016, bairro Pinheiro/SP, não é que encontramos – eu e Lucíola –, naquele formigueiro humano, a figuraça do Paulo Henrique Amorim, a quem cumprimentamos felizes, pelo acaso, com seu famoso bordão de guerra: “Olá, tudo bem?”. De memória privilegiada, ele nos reconheceu de imediato, abriu um sorriso e foi logo dizendo: “O pessoal do Piauí, não é mesmo?”. E durante alguns minutos, uma vez que ele tinha compromisso agendado, papeamos ali mesmo, na rua, sobre diversos assuntos. Enquanto falávamos de nossa ida à Balada Literária, comandada pelo intrépido Marcelino Freire, ele queria saber da cajuína, do calorão bom de Teresina e do gostoso capote que havíamos degustado naquela inesquecível noite de novembro. E agora ficamos privados, quando mais precisávamos, de sua voz lúcida e mordaz contra o discurso de ódio e a ameaça de autoritarismo que ameaçam o estado de direito. PHA, presente!