Besteira das grandes ter confessado meus pecados ao padre. Onde estava com a cabeça pra tamanho desatino. Se arrependimento matasse, teria partido há muito tempo. Na realidade, um pecado apenas, traquinagem de adolescente. Coisa à toa, própria da idade: bater punheta inspirado nas meninas da escola. Sem falar da vizinha, toda gostosa, alívio das noites insones. Ingênuo, esperava algumas ave-marias e pai-nossos. Mas a punição, além das rezas, veio recheada de terrorismo psicológico. Aspecto pior de todos. Que iria direto pro inferno, não parasse tal safadeza. Que podia ficar louco, daqueles de atirar pedra na lua, caso insistisse nessa prática obscena. Pior ainda, ficar sem as mãos, dois toquinhos, teimasse em seguir caminho tão diabólico. Graças à medicina, que hoje diz fazer bem à saúde, retomo feliz o diálogo com meus cinco velhos e saudosos amigos de outrora – os dedos.
(II)
Mal iniciava a partida de futebol, no estádio Lindolfo Monteiro, saíamos em disparada nas bicicletas dos torcedores. Vigiar que é bom, nadinha de nada, apenas o prazer de curtir tamanha felicidade. Fora a sensação de liberdade, de braços soltos e camisa aberta, pelas ruas bem traçadas de Teresina. Nossos corações aos pulos, quase saltando pela boca, uma trupe de meninos ávidos por aventuras em paralelepípedos indiferentes a quedas e risadas gostosas. Pedaladas que nos levavam ao imponderável, ligando praças a avenidas, até culminar no aeroporto da cidade, o Senador Petrônio Portella, onde víamos às vezes, boquiabertos, pássaros enormes, com toneladas de peso, descer e pegar voo na maior leveza do ser. Ao final do jogo, estávamos no posto de trabalho, como se não tivéssemos saídos dali, pra entregar as bicicletas e receber as gorjetas merecidas. Com bolos, refrescos e picolés celebrávamos nossa peraltice e a vida. O diacho era quando um torcedor saía antes do término da partida.
(III)
Foi o velho cochilar pra eu pegar a ponte metálica, sozinho, e ir banhar do lado de Timon. Domingo de sol escaldante e céu azulado, convite irrecusável a desfrutar das frescas águas do rio Parnaíba. Conhecido também como Velho Monge, nome atribuído por Da Costa e Silva, nosso poeta maior. Na época, lá pelos anos de 1970, ainda limpo de dar gosto, dando pra beber na mão. Pula daqui, pula dali, brisa gostosa acariciando a manhã, senti um buraco, repentinamente, arrastando-me pra sua profundeza, desespero apagando de vez minha felicidade. Não fosse um pescador, que exercia seu ofício próximo, teria partido muito cedo, sem gozar dos prazeres da vida. Já em casa, ao encontrar Seu Tomé, dei-lhe um forte abraço, chorando em silêncio. Disse que era, quando indagou, por ter perdido o papagaio que empinava na disputa com os meninos do quarteirão. Jamais ele soube do ocorrido, mas comigo, agradecendo e prometendo a Deus, jurei dali pra frente nunca mais desobedecer meu pai.
(IV)
Pior que a goleada de 7 a 1, difícil de engolir até hoje, foi a justificativa dada pra tamanha humilhação. Preferível o silêncio, mil vezes. Ainda mais jogando dentro de casa, em pleno Mineirão, com a torcida apoiando o escrete brasileiro. Integral e incondicionalmente. Apagão uma ova, que ninguém é trouxa pra engolir resposta tão absurda. Na realidade, desdobro dos grandes, eufemismo pra encobrir o desempenho vergonhoso dos nossos jogadores em campo. Quem sabe, descompromisso total, dado os cachês milionários recebidos, com a própria terra natal, “Ó pátria amada/ Idolatrada/ Salve! Salve!”. Ou, talvez, falta de profissionalismo mesmo, sobretudo, do técnico Felipão, com essa lorota pra boi dormir, de apagão, um branco inexplicável que teria desnorteado o time. Não 1, 2, 3, 4 gols certeiros, mas 7 ao todo, setas cravadas eternamente no orgulho da nação de chuteiras. Não tendo sido maior o placar, sabe lá Deus, por benevolência dos alemães. Amém!