Mário Faustino nasceu em Teresina, Piauí, no dia 22 de outubro de 1930, e faleceu em 27 de novembro de 1962, quando voava em direção aos Estados Unidos. Passou pelo Pará e pelo Rio de Janeiro, onde fez fama como poeta, tradutor e crítico literário, através de textos publicados no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil. Faustino foi um homem mergulhado na superação das vanguardas que surgiram na Europa do final do século XIX e da primeira metade do século XX. O autor de O homem e sua hora (1955), seu único livro publicado em vida, busca, incessantemente, trabalhar a linguagem poética como um laboratório de expressão cujo alicerce é a renovação estética e, por conseguinte, a ampliação do campo literário. Tem, como pilastras principais, a poesia de Mallarmé, de Ezra Pound, de Cummings, de Rilke, de Jorge de Lima, de Fernando Pessoa e a de Apollinaire, além da prosa inovadora e inquietante de James Joyce.

Em Faustino, o eu lírico está fragmentado, despersonalizado, donde se observa a expressão de múltiplas vozes, mas, ainda assim, tal atitude somente enriquece a unidade de sua poesia. O poeta piauiense realiza um trajeto voltado para a indagação metafísica: o questionamento a respeito do ser humano, a verdadeira vocação do homem e a pluralidade do eu.

Isso dá o tom da dinâmica que ele tanto buscava, o que deixa visível sua visão de mundo. O mundo que conhecia uma nova ordem: a reestruturação da vida após duas guerras mundiais, a efervescência da atmosfera de transgressão modernista e da superação surrealista dos feitos do inconsciente. Como ressalta Gilbert Durand, observava-se, na época de Faustino, uma ideia de “anti-individualismo, que diferencia com clareza a modernidade do século XX dos individualismos românticos do século passado”.

Faustino utilizou-se, sem medo de excessos, do chamado metapoema – artefato acentuado da fórmula poética moderna – para compreender melhor as teorias acerca da poesia. Trata-se de um poeta de caráter logopaico, para lembrar aqui uma definição de um dos seus poetas preferidos, o norte-americano Ezra Pound. Ou seja, Faustino era um poeta de sentimentos pensados. Jamais deixou que a emoção se desvencilhasse da razão na feitura de seus poemas. Para o crítico Mário Faustino, a tradição poética serve de substância primordial no processo de criação do poema, onde se conclui que o novo texto é fruto de uma assimilação cerebral e estética. Porém, deve-se canalizar para uma escrita independente e, notadamente, inovadora. Portanto, a poesia, para Faustino, é o lugar ou não-lugar onde a linguagem renasce. Deste modo, aos verdadeiros poetas, não há a angústia preconizada por Harold Bloom . Influência não gera fantasmas aos iniciados na poesia. Gera frescor e ímpeto de renovação.

O poeta vale-se de várias figuras mitológicas. Faz um verdadeiro retorno aos mitos clássicos, greco-romanos e sacros, dando-os nova significação no discurso poético. Valoriza o artifício da criação estética em detrimento da individualidade de quem cria, concebendo tal ideia através da multiplicidade das vozes poéticas. Faustino comunica-se com outras artes, em especial, com o cinema e com as artes plásticas. Faustino busca, incessantemente, a inovação, principalmente em relação ao arcabouço do verso e ao instrumental sintático. Em toda a sua obra, dois elementos atuam sem parar: o eterno e o passageiro na natureza humana. Trata-se de um poeta de múltiplas vozes, como se pode ver nestes versos: “Mas eu não sou o senhor/embora venham comigo a música e o poema./Por que vos ajoelhais se eu vim por sobre as ondas/e só tenho palavras?/Ouvi a minha voz de anjo que acordou:/Sou poeta.”

Sim, Faustino é um dos grandes poetas brasileiros do século XX. Um dos maiores do Piauí de todos os tempos. Um autêntico seguidor de Pound, empunhando a bandeira cujo lema gravado com as letras do tempo era: “repetir para aprender, criar para renovar”.