por Nathan Sousa
poeta, ficcionista, ensaísta e dramaturgo

No que diz respeito à literatura escrita em inglês, esta começa com Geoffrey Chaucer (c. 1344-1400) há, aproximadamente, setecentos anos. A exemplo de outros povos, muito tempo foi preciso para que a Inglaterra pudesse unificar a escrita e a fala de sua população. Das histórias semimíticas dos tempos do reino de Arthur, chega-se aos Contos da Cantuária. Com Chaucer, não apenas se inicia uma uniformidade do idioma, mas prepara-se o campo para a criação de uma enorme literatura. Trata-se de uma figura de elevada erudição, fluente em várias línguas. Para Chaucer, a vida humana podia ser “mundana” e “religiosa”. Mas Chaucer era terminantemente contra os excessos da igreja, principalmente no que se tratava da venda de indulgências. Nos primeiros contos, como os conhecemos hoje, tem destaque a nobreza dos cavaleiros, daí a expressão “cavalheiresco”, mas há o acréscimo das narrativas de baixo calão, o que fazia com que os textos dos Contos da Cantuária fossem quase sempre censurados, principalmente para o público leitor jovem, até meados do século XX, ainda que seu final seja feliz com os sermões do Pároco.

Por sua vez, entre os séculos XV e XVI surge, na Inglaterra, a impressão e o teatro moderno. O palco eram as ruas. Na terra de Shakespeare as apresentações eram chamadas de “mistério”. As primeiras guildas, ou seja, as primeiras manifestações organizadas, realizavam encenações de passagens bíblicas. O drama apresentado nas ruas servia como instrumento evangelizador de massa, já que poucas pessoas tinham acesso aos livros. Mas as várias facetas de uma sociedade cada vez mais urbanizada ganha representação nos primeiros anos deste tipo de teatro.

Com o advento da impressão, a Bíblia ganhou outro meio de divulgação mais eficiente que as peças de mistério. Ao contrário deste tipo de apresentação da literatura, no livro, desenvolve-se essa atividade de maneira mais intimista. Portanto, eis o valor do teatro como representação literária nos seus primeiros anos: trata-se de uma literatura de fluidez popular no sentido lato da palavra.

Do livro inédito de ensaios, A PALAVRA ÁVIDA, de Nathan Sousa.

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Texto exclusivo no site.

O texto faz parte do livro inédito de ensaios, A PALAVRA ÁVIDA.