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Nada mais recomendável que abrir este Blog falando de um velho e querido amigo: Emerson Araújo, professor e poeta da melhor qualidade. Natural de Tuntum, interior do Maranhão, onde voltou a residir novamente, ele se formou em Letras na Universidade Federal do Piauí e atuou no magistério de Teresina por anos, lecionando literatura em várias escolas de nossa capital.

Na Federal, fizemos parte da mesma gestão do Diretório Central dos Estudantes (DCE), chapa Espinho, e travamos lutas memoráveis em defesa da melhoria do ensino superior e contra a ditadura militar. Há poucos dias, Emerson voltou à Verde Cap para lançar seu mais novo livro de poesias: Címbalos, lutas e olhares – obra patrocinada pela antiga Fundação Cultural do Piauí (Fundac), através do Sistema de Incentivo Estadual da Cultura (Siec), e com selo da Editora Quimera.

O livro é dedicado ao pai já falecido, Hiran Silva, e conta com a bela apresentação de Assunção Sousa, professora de literatura da Uespi e Ufpi. Após tantos anos sem publicar, o poeta retorna mais amadurecido e zeloso no manejo das palavras, combinando com maestria conteúdo e forma, de tal maneira a sensibilizar o leitor com os seus textos.

Bom tê-lo de volta em livro outra vez, o Emerson Araújo, sacudindo nossas emoções e pondo abaixo algumas certezas. Saravá, poeta!

 

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O tempo parece ter feito bem ao poeta, igualzinho a vinho, pois cada poema lido deixa um gostinho de prazer e leveza na gente. NOVA POÉTICA, em versos metalinguísticos, é um ótimo exemplo disso: “Juntar a palavra medida / Num cálice de diversas linguagens // Sorver em goles pausados / Todas as letras / Todos os sons // Só depois burilar / A palavra rendida na temática / E ofertar ao ávido leitor / Uma fruta lambida.”

Um tema presente nas páginas do livro, abordado por todo grande poeta, é o do lirismo amoroso, mas desprovido, como deve ser, da carga de pieguice e sentimentalidades que infestam a poética nacional. Em Emerson Araújo, o amor brota natural e com delicadeza, sem assustar nem provocar desconfiança na musa inspiradora, como ilustra O NOME DELA:

A palavra que cultivo neste início de verão
Não traz novidades e nem espumas
Há um sol querendo vencer matas secas
Sinais de pés pela estrada
Em lençóis perfumados.

A cantiga de amigo não é minha
Não há vozes profundas nela
Apenas uma mocinha acenando
E um olhar de devorador de estrelas
Pulsação e vertigem no umbral.

Somente o beijo que te dou
Faz poeira e sedição
Há um sol vencido no fim de tarde
Ovelhas no pasto, mulher cortando arroz
O sertão imaginado no nome dela.

Bonito ver o poeta homenagear nos seus escritos, sem cair em louvores estéreis, figuras que o marcaram profundamente, tanto do ponto de vista artístico (Torquato, Borges, Neruda, Rimbaud, Niemeyer) quanto político (Mandela, Marighella) e religioso (Jesus). Ao escritor argentino, ele dedicou um quinteto dos mais bonitos: “Nesse meu tempo de maio / Não sou de mim / Labiríntico / Vou manipulando dédalos / Até o fim”.

Num tributo a Tuntum, Emerson Araújo expressa, em linhas telúricas, sentimentos dolorosos de saudade e crítica: “O poeta canônico volta e meia / Canta a saudade da sua terra / Em versos de extensas frases / Mas o poeta anatômico / Não tem disso não / Ele nem canta / Rabisca palavras ao léu / Para dizer apenas / Que a sua terra é / Um tristecéu.”